quarta-feira, outubro 28, 2009

A tristeza


É a tristeza, uma cola pegajosa que fica na nossa pele e não sai com a água do banho. É a tristeza, um torpor que vem de dentro como um frio que nos amarra os músculos. É a tristeza, aquela cortina de fumo que nos esconde e torna feios os nossos olhos. É a tristeza, uma morte sem corpo nem doença que nos agarra quando o Outono traz assim tão cedo as noites. É a tristeza, esse não gostar de nós que nos acaba a não gostar do mundo.

Não gostar do que em mim é falha e erro, por mais humano que seja.
Não gostar de um mundo em que há um atentado sangrento no mercado como houve hoje no Paquistão.

Não gosto de ficar assim colada à tristeza.
~CC~

terça-feira, outubro 27, 2009

Saber



Os livreiros velhos que sabem o nome das árvores da cidade são um bem impossível de classificar. São como as árvores com nome que são amadas por eles.

~CC~

domingo, outubro 25, 2009

A primeira escola



Voltei lá no último Domingo e ela estava lá, quase igual. Tudo quieto, parado, silencioso como há mais de vinte anos quando cheguei na camioneta da carreira, depois de duas horas e meia de viagem. Os meninos, ainda os procurei pelas esquinas da rua, imaginando-os rapazes e raparigas com olhos ainda espantados como quando os encontrei. A serra de Montejunto ali mesmo ao lado, imponente no seu olhar de pedra. Foi este o lugar onde me tornei professora pela primeira vez, apenas uma sala, uma única sala vazia e fria onde a tristeza parecia querer espreitar em cada janela. O pátio de terra varrido pelo vento é ainda o mesmo, mas há pequenas árvores, alguma delas será a que plantámos num dia de Primavera, cantando à sua volta uma canção para embalar o seu crescimento?!


E parece que ainda hoje tenho nas mãos as rosas que eles me levaram depois da primeira semana, parece que ainda estou comovida como no primeiro dia em que tive nas mãos a chave enorme do portão da escola. Passou tanto tempo, e é verdade que ela já não sou eu e sou eu ainda, a mesma que riscava a ardósia com um bom dia escrito a giz de muitas cores.
~CC~

sexta-feira, outubro 23, 2009

Dois apontamentos de amor



Há muito que espreito curiosa as nuances do seu crescimento. Espanto-me por vezes, fico entre o orgulho e a comoção. No início do Verão foi o silêncio que nos pediu para ouvir uma reportagem que passava na rádio sobre os meninos da guerra. Durou cerca de uma hora, iniciada no carro e terminada em casa, subiu as escadas a correr para a acabar de ouvir. Foi um outro mundo que lhe bateu à porta, esse onde as crianças não vão à escola e em vez das letras, aprendem a matar. Ontem foi o discurso que o Obama fez no início do ano lectivo nos EUA, vinha entusiasmada com a leitura colectiva que estavam a programar na turma. Leu a parte dela, logo os dois primeiros parágrafos com um tom de voz bonito e emocionado. Espanto-me desde os seus primeiros passos, mas a caminhada continua a ser um espanto.

Tomava café bem cedo pela manhã quando eles surgiram no vidro amplo, enquadrados por um nevoeiro matinal que os recortava como silhuetas prontas para a fotografia. E eu tirei-a com os meus olhos. Um homem e uma mulher bonitos, na casa dos trinta anos. Vinham abraçados rindo baixinho, saindo de casa pela manhã. Saiam de casa abraçados como só os amantes fazem, prologando o amor da noite, o calor dos corpos. Vinham pela manhã com a certeza de que se amavam, de que o seu amor era aquele abraço com que entravam no café. Espantou-me a fotografia do amor pela manhã, o seu abraço cheio dele.
~CC~

quinta-feira, outubro 22, 2009

Paixão e Política

VERMELHO REDUDANTE

Eu só quero ver o instante
em que chegas à manif
no teu Armani flamejante
qual vermelha passadeira
em vermelho redundante
que empalidece a bandeira

Vou ficar a ver-te mudo
gritando slogans na rua
pela divisão da riqueza
enquanto nos gabinetes de veludo
o poder treme e recua
com medo da tua beleza

Então dou-te uma toilette
soneto de alta costura
a mais chique maravilha
para me sentir perdoado
por não poder estar a teu lado
quando tomares a Bastilha.

Carlos Tê/Jorge Palma

(é mesmo verdade que a sabes tocar?
haverá lá melhor modo de comemorar a entrada do novo governo?!)

~CC~

quarta-feira, outubro 21, 2009

Dançar na chuva


As aulas começavam tarde, já as primeiras chuvas tinham lavado as ruas. Mas as chuvadas grandes que dobravam ao meio os guarda chuvas vinham um pouco depois, normalmente no final de Outubro. E lembro bem aquele dia em que tu e eu decidimos nos molhar até aos ossos, até aos nossos cabelos compridos escorrerem gotas no cimento do pátio grande, onde ficava também a maior poça de água da escola. E dançámos no pátio, cantando uma música dos Beatles, feitas cigarras tontas, desafiando todas as leis que amarravam o nosso quotidiano suburbano.

E quando nos abraçámos rindo, lembro-me que tinhas a face gelada, ainda mais gelada que a minha, e os teus lábios roxos riam e riam. Mas o que guardo de todo esse frio é um calor imenso, e nenhum apego, antes recusa, a guarda chuvas. E também uma certa alergia a convenções, acho que ainda era capaz de dançar à chuva.
~CC~

terça-feira, outubro 20, 2009

Mar dos montes

É para o corpo que toda a tensão me foge, creio que poderia constituir com sucesso uma fonte de energia.
Então fecho os olhos e tento chegar ao mar dos montes. Há muito que ensaio manobras de teletransporte, com resultados pelo menos interessantes.
~CC~

domingo, outubro 18, 2009

Malha apertada

As imagens das pessoas à porta da fábrica, muitas vezes em silêncio, muitas vezes sem nada para dizer além dos olhos que têm para mostrar. São ainda elas, são ainda as outras, não é ainda o nosso inferno.

Mas um dia chega alguém muito próximo que nos diz que foi despedido. Há meses que conhecíamos o braço de ferro que vivia, o desalento pelo ruir de uma empresa, parte da culpa deposta numa gestão à deriva, as suas propostas todas deitadas por terra, denegridas. Depois chega outra, tão ou mais próxima que a primeira. Não aguentou a pressão diária, feita de manobras de terrorismo de escritório, muitas exaltações e gritos. Esta veio pelo seu pé em direcção a coisa nenhuma, sem direito à fila de espera no centro de emprego mais próximo de casa. No primeiro caso foram dez anos de uma vida, no segundo sete. Ninguém quererá saber, nem serão notícia.

Quando os comparo com os trabalhadores imigrantes que no Alentejo fazem agora as sementeiras por 450 euros, vivendo em casebres durante 7 dias da semana, e apenas com um de descanso, parece pequeno o seu sofrimento. Mas as quedas bruscas que geram uma nova pobreza tapada de vergonha são de uma tristeza imensa, e só com muita coragem se conseguem quebrar.

E não queremos muitas vezes ver, até que chega perto da nossa porta, e depois já lá dentro, e depois connosco. Vemos quando o inferno está próximo. É preciso então, não só a coragem dos que sofrem, mas a malha apertada dos que estão perto.

~CC~

Nota: Uma vez, estando prestes a perder o meu trabalho (já que emprego é coisa que não tenho), os meus amigos telefonavam a dizer, sempre em tom de brincadeira, o que aliviava bastante, que já estavam a fazer a rotação semanal das sopas.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Retrato

O retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde

(só o li no Verão 2009
ainda assim a tempo de perceber como é actual, afinal anda tanta gente perdida de si própria)

quarta-feira, outubro 14, 2009

Desistir

Ela disse-me como tinha desistido. Desistido de o amar, de o querer. Contou-me como o amor começa com um mistério. O mistério do outro ser só quem se olha nas quatro paredes de uma sala. Alguém que se olha muitos e muitos dias nas quatro paredes de uma sala. E depois o olhar já dói, a boca abre meio sorriso, e chegam as primeiras palavras. Ela contou-me que achava que ele era um cigano assimilado. Abri a boca de espanto perante tal ideia. Contou-me que começou a amá-lo porque ele era um cigano e não dizia que o era. Perguntei-lhe pelos sinas de tal pertença étnica. E ela respondeu que era o amor que ele devotava aos cavalos. E também havia os olhos muito pretos e o tom moreno da pele. Ela apaixou-se por ele a julgar que ele, além de um brilhante geógrafo, era cigano. Um cigano a esconder a sua pertença étnica, ou com as raízes cortadas. O mestrado tornou-se secundário. Os outros deixaram de existir na sala em que eles se olhavam.

Mas afinal ele não era cigano e tinha mulher, dois meninos e uma óbvia e forte ligação à família. Mas também estava apaixonado por ela. E terminava todas as frases que lhe dizia com a palavra espera. E ela percebeu que teria que esperar até os meninos terminarem os seus primeiros estudos, depois a faculdade, depois a saída de casa. Ela percebeu que tinha uma vida de espera pela frente. E percebeu também que se esticasse a corda, ele viria, deixando para trás a mulher e os meninos. E via como lhe era insuportável começar uma vida sobre a dor de outros, mesmo não os conhecendo. Acordava a meio da noite a ouvi-los chorar. E desistiu, matou lentamente aquele amor que nem corpo tinha tido.
~CC~

terça-feira, outubro 13, 2009

Sinteticamente...

Gostei da síntese que ele hoje fez da minha vida:

-Então amanhã vais entrevistar um padre sobre sexo?!

(Pois é....)

~CC~

segunda-feira, outubro 12, 2009

Verde

Queria estar aqui. Acordar no silêncio verde e húmido daquelas manhãs.
~CC~

domingo, outubro 11, 2009

Poder

Coimbra de Matos, o grande e velho Psicanalista que fala como se não nos visse à sua frente, explicava, na sessão de homenagem a um professor já falecido e em tudo diferente dos outros, que a líbido do poder é a pior das quatro, uma das que se extasia com a ascêndencia sobre os outros, um desejo de plantar desertos em vez de flores. É verdade, em si mesmo, o poder pode ser um veneno, tornar alguém um veneno.

E, no entanto, houve Nelson Mandela e há Obama. E não só, há homens e mulheres bons que chegaram ao poder. Nestas eleições autárquicas recebi pela primeira vez não um mas vários e.mail de pessoas próximas, quase amigos, que concorriam a freguesias e assembleias muncipais. Partilhei com algumas delas saborosos momentos de trabalho, sem perceber ou poder antecipar esses seus designíos políticos. Mas é verdade que eram cidadãos empenhados e muito participativos nos seus locais de trabalho, havia neles uma ânsia de fazer coisas, de transformação. Reconheço que esses seus traços eram mais do que a líbido do poder.

Há anos que trabalho com as autarquias em pequenas actividades ou em projectos de maior dimensão, pude constatar o melhor e o pior. Mas se há coisa em que acredito é nesta Democracia de maior proximidade, em podermos chegar à fala com os políticos que são responsáveis pela luz e pela recolha de lixo da nossa rua. Pela primeira vez em muitos anos marquei nos meus três boletins de voto diferentes escolhas, escolhas que não são partidárias. Conheço as pessoas que estão a concorrer, não são para mim imagens ofuscadas pelos partidos pelos quais concorrem, não são pessoas que nunca ouvi dizer nada na AR. Não quer isso dizer que esteja certa face às opções feitas, mas julgo-as melhor do que julgo deputados que estavam a concorrer às legislativas pela terra em que votamos, sem ter com ela nem com os eleitores nenhuma relação.

É verdade que temos Isaltinos e mais meia dúzia de corruptos, é verdade que a proximidade pode ser um pau de dois bicos e abafar em vez de libertar. Mas creio que toda a mudança deveria começar por aqui, por quem podemos condenar por ter feito na nossa cidade parqueamentos pagos em vez de jardins ou por ter optado por deixar cair os velhos edifícios em vez de os recuperar, por quem podemos aplaudir por ter abertos casas luminosas onde guardar e divulgar os livros e ter salvo teatros e cinemas cheios de histórias. A Democracia, a reiventar-se, e como precisa de se reinventar, deveria ser por aqui.
~CC~

sexta-feira, outubro 09, 2009

Da vida e da morte

Comenda, Outono de 2008

Hoje acordei especialmente feliz, não só por ser Sexta Feira, mas também porque nasceu há dois anos atrás um rapazinho tamanho de uma mão que contra tudo sobreviveu. Filho de uma mãe também sobrevivente de doença grave, deve ter bebido nas suas entranhas a força da vida. O facto dele estar hoje connosco é motivo de uma alegria imensa, como se com ele se tivessem fortalecido entre nós os laços que já eram fortes.


Mas logo entristeci porque morreu a mãe de uma amiga querida, alguém a quem a minha filha um dia descobriu não ser tia dela por acaso, porque sempre lhe tinha chamado assim. Arranjei mais irmãs além das duas que já tenho e esta é, de certeza, uma delas. Há dois dias tinha deixado uma mensagem comovente no post que escrevi sobre o meu Outono, com um pedido de não publicação. Agora está ali secreto cada vez que entro no blogue porque não consigo apagá-lo. A mãe dela foi uma mulher de uma enorme coragem, lutou pela vida até a morte a levar.

Então, metade de mim ficou ainda a rir com o riso do meu sobrinho mais pequenino e a outra metade ficou a chorar com a dor da minha amiga. Metade vida, metade morte.

~CC~

quarta-feira, outubro 07, 2009

O meu Outono


Celebro em cada Outono um passeio de bicicleta em grupo a um lugar abandonado na cidade. Celebro um banho de mar tardio numa praia despovoada e cheia de pequenas conchas. Celebro a doçura de um beijo ainda receoso ante a possibilidade da recusa. Celebro um MP3 colocado no meu ouvido onde ecoava o Mercador de Veneza. Celebro a estranheza das peles que se desconhecem mas não se recusam tactear, mesmo a medo. Celebro os abraços dos corpos infinitamente colados.


Celebro a coragem do encontro face ao terrível medo do encontro.

~CC~

terça-feira, outubro 06, 2009

Nascer

Sentir-me a nascer com ela no imenso Alentejo.
~CC~

segunda-feira, outubro 05, 2009

VOL

Cartoon de Luís Afonso
(É o barzinho do espaço VOL em Serpa)

Os republicanos tinham um sonho que nunca chegaram a cumprir e que a Sophia de Melo Breyner imortalizou nos seus versos:

Vemos, ouvimos e lemos
(VOL)
Não podemos ignorar

Muitos outros o têm tentado tornar realidade, abrindo lugares para amar os livros nos mais diversos cantos deste país. Um a um tenho procurado conhecê-los, num roteiro intímo marcado pela minha profunda admiração, pelos meus sonhos também. Ou, como diria Luadino Vieira, no espaço VOL, pela minha gratidão. Ele disse vezes sem conta: estou grato por terem vindo. E fiquei a pensar no homem que escondia uma alma torturada num rosto tão sereno.

~CC~

sexta-feira, outubro 02, 2009

Duas mulheres



Eram mulheres, eram bichos fêmea. E viviam em África, no sítio da terra vermelha, no lugar em que as cores se tornam todas mais intensas e a àgua quando cai nos lava inteiros. Elas vêm do fundo do tempo, de um lugar antigo cujo código ainda está inscrito em nós. Elas são um legado cujo valor ultrapassa a ciência, devia situar-se na Humanidade. Ardi e Lucy estão tão próximas de nós, vejo-as criando os seus fihotes no seio da floresta esparsa, mergulhando com eles nos ribeiros de água doce, dando-lhes afinal calor e leite, da mesma forma que as mulheres ainda hoje fazem.


Todos os homens que não amam as mulheres se deviam calar ante este legado, todos aqueles que as oprimem nos múltiplos lugares do mundo, sob formas mais selvagens ou mais subtís. O nomes de Ardi e Lucy deveriam fazer morrer todas as ofensas de séculos. E em África, elas foram descobertas na Etiópia, um dos países mais pobres do mundo. Parece que foi aí que todos nascemos, só esse milagre devia resultar em todo um outro respeito por este continente, Lucy e Ardi deviam ser um apelo urgente. Os cientistas falam dos caninos de Ardi para explicar que era uma mulher de paz, mesmo que a sua morte pareça ter ocorrido violentamente. E parece que tão pouco apoiava as mãos no chão quando caminhava, Ardi já andava erguida. Assim devia ser com todas as mulheres, assim devia ser com todo um continente.


~CC~



quinta-feira, outubro 01, 2009

Quotidiano

É verdade que deito as cartas para o lixo sem sequer as abrir, há muito que sei que são quase todas facturas de serviços vários e muita correspondência multi variada do banco, e não me interessa nada saber o que têm a dizer. E por causa disso nunca me tornei caixa azul nem rosa nem nada. E não tenho PPRs nem certificados de aforro nem qualquer investimento. É também verdade que deito fora os recibos quase todos, sem me lembrar de os guardar para o IRS, sejam eles de farmácia, de hotel ou de livros. E sou inevitavelmente enganada porque me vendem coisas quando ando no supermercardo, no intervalo das aulas, a meio do caminho para uma escola qualquer, na volta de uma viagem. Ligam-me da Toytota, do ginásio da esquina, das promoções da churrasqueira e quase todas as semanas da TV Cabo. Finjo que os oiço enquanto escolho as melhores alfaçes, faço rabiscos nos cadernos, mexo o estufado, leio entrevistas e outros materiais de trabalho. Digo sempre não.

A não ser quando digo sim porque já disse tantas e tantas vezes não que tenho pena deles e de mim. Assim venderam-me uma caixinha mágica dessas que têm mil canais e permitem andar para atrás e para a frente e depois falar sem parar de telefones fixos e fazer infinitos downloads. Quando o funcionário chegou com mais de uma hora de atraso estava mais ou menos furiosa, tinha teste de Inglês dali a pouco e estava cheia de pressa. Quando o vi nem queria acreditar na criatura de Fellini que me acontecera: umas lentes hiper graduadas que escondiam um olho para cada lado, acompanhada de algumas dificuldades de articulação e um andar muito tropêgo. E só me pedia desculpa e muita desculpa e uma chance para ficar pelo menos 10 minutos que depois voltava noutro dia: "minha senhora à hora que quiser, no dia que quiser". Ficou meia hora e voltou dois dias depois para mais uma hora de trabalho.


Ensinou-me muitas coisas no tempo que aqui passou. Ensinou-me que nunca devia ter comprado a dita caixinha porque a minha TV era tão antiga que não servia de nada ter uma coisa moderna como aquela...e que assim que pudesse devia mudar para um plasma. Ensinou-me que todas as tomadas da minha casa estavam desajustadas e cada uma tinha uma voltagem diferente. Explicou-me que a minha ligação da TV Cabo estava ligada para o andar de cima, apesar do meu ser o último. E ainda que todo o processo que os colegas tinham feito estava errado, porque ligaram aquilo como se a seguir a uma feijoada se comesse um cozido (fiquei a pensar muito nesta metáfora).


E no final disse-me que não havia muitas clientes como eu, disse "gostei mesmo da senhora" e deixou um telefone para eu ligar caso tivesse problemas com o serviço, que nem hesitasse que ele viria logo. Nunca disse o nome, mas quando ele saiu fui ver o que tinha rabiscado na folha. E lá estava o seu nome biblíco seguido de telefone. Acreditem que isto não foi um sonho nem ele era um espiríto.
~CC~