As aulas começavam tarde, já as primeiras chuvas tinham lavado as ruas. Mas as chuvadas grandes que dobravam ao meio os guarda chuvas vinham um pouco depois, normalmente no final de Outubro. E lembro bem aquele dia em que tu e eu decidimos nos molhar até aos ossos, até aos nossos cabelos compridos escorrerem gotas no cimento do pátio grande, onde ficava também a maior poça de água da escola. E dançámos no pátio, cantando uma música dos Beatles, feitas cigarras tontas, desafiando todas as leis que amarravam o nosso quotidiano suburbano.
E quando nos abraçámos rindo, lembro-me que tinhas a face gelada, ainda mais gelada que a minha, e os teus lábios roxos riam e riam. Mas o que guardo de todo esse frio é um calor imenso, e nenhum apego, antes recusa, a guarda chuvas. E também uma certa alergia a convenções, acho que ainda era capaz de dançar à chuva.
~CC~
2 comentários:
Que diferença entre o dançar à chuva e o comentar a dança à chuva... é bom lembrar estas danças nas andanças quotidianas que nos movem, para não nos deixarmos engolir por elas, para, nelas, continuarmos sempre a dançar ...
Bjs e abrs
Oh menina, tens toda a razão! Bjs
~CC~
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