sexta-feira, dezembro 28, 2012

Outro ano, outra morada


Queridos amigos
Criei uma morada nova para viver em 2013. Não a posso enviar a todos vós que me habituei a ler e a ver aqui porque não consigo aceder aos vossos e.mails pelo perfil. Escrevam para mim que envio o endereço.
Gosto de anos ímpares.
Até sempre
~CC~

domingo, dezembro 09, 2012

Vou de viagem



Meus queridos leitores (mesmo que sejam apenas meia dúzia)...
 
Minha querida ardósia...
 
Vou de viagem, não uma viagem como as outras, daquelas de buscar lugares fora de nós. Vou partir por uns tempos ao meu centro de gravidade onde os mares são ora serenos, ora muito agitados. Já me salvei a nado de bem pior.
 
Os tempos são difíceis e é preciso dar toda a atenção a quem se senta connosco para tomar um café e nos olha nos olhos, coisa que não se pode fazer por aqui, coisa que muita gente que nos rodeia (e até se diz amigo/a) não faz. Se quiserem conversar, pois prometo responder à caixa de comentários. Se quiserem ficar por aí, qualquer dia os dedos voltarão a querer riscar com giz. Na verdade os blogues não são bons nem maus e tenho afecto pela minha ardósia, mas não é do que preciso agora.
 
Façam o favor de sobreviver, de resistir, de lutar.
 
 
~CC~

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Da futilidade dos dias



Pensamos que a marca que deixamos nos lugares é um traço forte que demorará a ser apagado, mas é um mero engano, quando damos conta já não é mais que fumo. Tudo é hoje de uma futilidade sem limites, até os sentimentos são de colocar e tirar, com a rapidez julgada necessária para não sofrer.

Ou ainda
 http://amoreoutrosdesastres.blogspot.pt/2012/12/salvos-pelo-amor.html

~CC~

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Essas mulheres...



Às vezes espreito a novela Gabriela (que já ninguém chama cravo e canela), confesso que apenas pela curiosidade de ver quem é agora quem. Da primeira vez que passou em Portugal a minha família não possuia ainda Televisão e como se tratava de um bairro suburbano, não se via nos cafés (aliás nem havia cafés) e eu fingia perceber aquilo de que toda a gente falava. Aprendi a rir no sítio certo, a ficar emocionada, a fazer perguntas adequadas - tudo sem ter visto um único episódio. Da segunda vez tratou-se da repetição da primeira e vi já sem aquela euforia colectiva que rodeou a primeira exibição.
 
As mulheres são agora todas muito mais bonitas, excepto a protagonista. Esta Malvina, por exemplo, tem uma beleza quase perfeita, contudo, nem de perto nem de longe a personagem se impõe como se impunha a outra. Diria que lhes falta personalidade, capacidade de nos convencer, de nos envolver, de nos mobilizar para a sua causa. São só bonitas.
 
Isto transportou-me para o anfiteatro cheio de estudantes no dia do Teatro do Oprimido. Eles perguntaram aos estudantes quem eram as mulheres que admiravam. Choveram estrelas da música e do cinema que estão no topo. Depois um estudante disse que quando pensou na resposta, não lhe tinha surgido ninguém que tinha sido referido. Todos quiseram saber em quem tinha ele pensado. Ele disse um pouco envergonhado mas também de modo assertivo: eu pensei na minha mãe! E depois acrescentou: pensei no sorriso dela...
 
~CC~
 

quarta-feira, dezembro 05, 2012

Bem dito!



Poderia escrever mais ou menos o mesmo que ele escreve, contando a minha versão, muito semelhante. Mas não é preciso, ele diz tão bem.

~CC~

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Coisas difíceis (III)



Já tinha ouvido nas notícias televisivas que as urgências dos hospitais tinham deixado de ser como o metro em hora de ponta. Não, pensei, contudo, encontrar a sala completamente vazia, não obstante o frio e as 4 da manhã serem obviamente desencorajadores. Lembrava à minha filha o quanto ela  tinha frequentado as urgências quando viemos morar para esta cidade e como a cada Inverno a única maneira de parar a tosse irritativa, interrupta e assutadora pela noite fora era lá ir, o aerossol e o ventilan foram companheiros muitas vezes. Nunca se demorava menos do que duas a três horas e lembro-me muito bem de sair já de manhã.
 
Ontem até era estranho o vazio e o silêncio, não obstante a meia hora fazer parte das absurdas rotinas burocráticas que até praticam triagem quando não há mais ninguém, pensava que ela servia para distinguir os prioritários dos não prioritários. O padrão médico permanece igual, uma quase absoluta indiferença ao doente, receita rotineira entre dois bocejos. Se não se entra a morrer, não há atenção. Só as enfermeiras vão explicando alguma coisa do que o médico receita e do porquê de o fazer, deviam inverter os papéis, já que uns explicam e outros não o fazem.
 
A explicação para o vazio veio logo a seguir: Dezassete euros e cinquenta por aquela meia hora num hospital público (com sistema de saúde ADSE). Somem mais vinte e um euros de medicamentos. Não admira que os mais velhos já não venham e os mais novos sejam tratados a brufen dado na farmácia. O mais engraçado é que no hospital particular que tem contrato com a ADSE se paga quatro euros por consulta. Alguma coisa vai mail no reino da Dinamarca.
 
~CC~
 
 
 

domingo, dezembro 02, 2012

Da vida de A. (parte II)



Sabemos como os tratamentos são longos e como o vazio é uma coisa que demora a desaparecer. Por isso A voltou muitas vezes, em algumas delas falou mesmo muito pouco e noutras avançou delirante, contando sonhos nocturnos invariavelmente tristes.
 
M iniciou um novo ciclo de questões sobre as coisas que lhe causavam uma sensação de conforto. A não teve tantas dificuldades como antes: um chá quente, um vinho tinto bom, uma lareira acesa, a visão do mar...M notou que não havia pessoas entre os motivos de conforto e pediu-lhe que as trouxesse. Foi um pouco mais difícil, a mãe não tinha sido especialmente carinhosa, o pai tinha-os deixado muito cedo, a primeira mulher era tão tremendamente volátil que a euforia dela, alternada com momentos de profunda tristeza, o tinham deixado sem vontade de emoção nenhuma. A filha era a única hipótese de conforto, umas mãos pequeninas entrelaçadas nas suas enormes, essa era única imagem de conforto que ele conseguia visualizar. Tinha, contudo, pânico de fracassar na relação com ela, de a afastar com a sua tristeza.
 
Um dia (ah, e podíamos aqui ter a valsinha como pano de fundo) A chegou diferente. Disse que queria voltar aos sonhos, disse que já sabia o que queria. Tanta certeza deixou M assustada e pensou que o melhor para conter aquela emotividade era pedir-lhe que escrevesse. Estendeu-lhe uma folha branca retirada do papel da impressora e uma caneta. Ele perguntou se não tinha antes um marcador porque queria escrever com mais força. Ela tinha um marcador azul e estendeu-lhe. Ele ficou muito tempo a desenhar as letras, ambos calados. Depois estendeu-lhe o papel, nele podia ler-se:
 
Eu quero uma mulher que me ame.
Uma mulher que me ame muito.
Uma mulher que eu possa amar também muito.
 
M leu o papel silenciosamente e sentiu uma cortina de água inconveniente a toldar-lhe os olhos e depois disso sentiu um soluço na garganta. Não sabe quanto tempo chorou enquanto A deitado no sofá nada dizia, embora não pudesse deixar de a ouvir. Depois levantou-se, tirou-lhe o papel que ela ainda segurava nas mãos e disse-lhe: estou curado, não estou? E antes que ela pudesse responder, abriu a porta e saiu.
 
(fim)
 
~CC~