sexta-feira, agosto 31, 2012

Coração singular


Um coração é invariavelmente igual a outro nas suas características essenciais. Torná-lo singular foi um desafio interessante lançado pela cidade de Guimarães (a par com Maribor, cidade europeia da cultura). Nestes pequenos gestos reside, parece-me, um evento pensado mais nas pequenas coisas do que em grandes acontecimentos.

É fácil para um estabelecimento comercial tornar singular um coração, mas como seria para cada um de nós? Que cores, materiais, texturas? Que sinais? Que singularidade? O teu, como seria?


~CC~

segunda-feira, agosto 20, 2012

Agosto, essa aldeia

Há um Agosto desconhecido de todos os habitantes do Sul. Um Agosto a Norte em que ainda se ouve pujante um francês de emigrante a varrer várias gerações de uma história que pensavámos estar acabada. Nós não sabemos o que é estar às 15h de um sábado nas termas em Chaves, de repente há um Portugal desconhecido que nos irrompe em vestidos de domingo e penteados com rolos, que dança descalço na relva enquanto o rádio dos carros investe num foclore pimba. Estas pessoas, quem são? O que as move? Tenho um genuíno interesse por saber quem são.

Fecham os olhos para beber com golinhos pequenos a água quente que tudo cura, mais além pararão para um farto piquenique. Vi um jovem de cerca de 20 anos e crista de galo benzer-se quando passou em frente à Igreja. Além adiante há mais um santuário cheio de mulheres a galhofar, homens mais adiante, em pose de Domingo. Há uns miúdos a casar-se com roupas incompatíveis com o século XXI. O comboio que percorre a zona turística vai cheio de gente que acena, grita e canta. No Sul todos estes comboios partem e chegam vazios. Miguel Gomes antes de Tabu trouxe-nos este querido mês de Agosto de feiras e romarias, fez esse retrato com a mesma incredulidade e com o mesmo carinho que eu sinto.

Contudo, ele foi um pouco mais generoso que eu. Em alguns momentos invade-me um repúdio impossível de controlar. É a maldita distância, o outro lugar que eu habito, como se entre este mundo e o meu houvesse um desfiladeiro em que é impossível caminhar. Eu vejo-os como outros. Gostei muito e, no entanto, assim que a paisagem entra no sul, sinto-me em casa.

~CC~

segunda-feira, agosto 06, 2012

Já cá, ainda de lá



Quando voltamos realmente? No momento em que o avião aterra? Mais tarde? Vamos chegando?
Durante alguns dias sonhava que estava ainda lá e os horários nunca mais se encontravam com os de cá. Vou chegando. Uma parte ainda está lá no primeiro morro pacificado do Rio, dos únicos onde há um elevador para subir (plano inclinado). O coração ainda bate à imagem destes macaquinhos vindos da mata da Tijuca, tal qual os que invadiam os quintais da minha infância.

~CC~