segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Conversas inquietantes (VI)

Eu (prof) - Eu nunca vi uma escrita como a sua no ensino superior, estou muito preocupada consigo, é que não se percebe mesmo o que escreve.
Ele (aluno) - Eu sei professora...em tempos viram que eu tinha dislexia...
Eu (prof) - Então e onde está esse diagóstico?
Ele (aluno) - Não tenho, nunca me deram...
Eu (prof) - E nunca procurou ajuda? Tem que fazer alguma coisa...já foi aqui ao gabinete de Psicologia?
Ele (prof) - Sim, eles não fazem o teste. Levam 5 euros por cada consulta para outras coisas, eu não posso...
Eu (prof) - E uma colega que escreva bem? Alguém que pudesse estar consigo um bocadinho, fazer uns exercícios...
Ele (aluno) - Ninguém tem tempo professora...acha que alguém se vai importar?!

~CC~

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Da saudade (III)




Tantas saudades de andar por aí. Anseio por passeios.


~CC~

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Cinema em estado puro

A invenção de Hugo é a crença na magia humana e o cinema nasce nesse momento. Seria muito pobre o mundo sem essa tela onde nos vemos melhor.

Todas as coisas sem explicação têm afinal uma explicação, uma história. Sou assim, acredito nisso. A maior parte das vezes passamos pelas coisas sem ver, muitas vezes sem nada sentir. Isso também me acontece.

Por um segundo não vi o filme, quando percebi que era em 3D corri para a bilheteira, presa da imagem do último em que enjoei. Quando lá cheguei vi que já tinhas comprado os bilhetes, ainda te vi a pagá-los. Ainda bem que não cheguei a tempo.

Senti o frio e a neve. A esperança em alguma coisa, mesmo que não saiba exactamente o quê, talvez só mesmo essa palavra doce nos olhos daqueles dois miúdos, no velho que renasce, na mulher que se torna outra vez bela, no homem que ama o cinema.

Senti a companhia, esse calor de vos ter ali.

~CC~

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

De fugida

Corro atrás do tempo sem o conseguir agarrar, sempre a fugir-me, a rir-se de mim. E agora que é Carnaval colocou uma máscara trocista, um sorrisinho miudinho, uma voz em surdina que diz: pensava ela que ia agarrar-me e sentar-se ao meu colo a olhar a paisagem...corre corre cabacinha.



~CC~

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Conversas inquietantes (V)

Casal (entre os trinta e os quarenta) com duas filhas pequenas, ao fim da tarde, no café.

- Pai, quero ali aquela bolachinha.
- Pede à tua mãe, ela é que sabe dessas coisas (sacundindo-a devagarinho).

A mãe, que já estava sentada na mesa, levanta-se para vir atender a criança, enquanto o pai se senta, indiferente.

~CC~

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Palavrar

Palavrar, foi assim que ele chamou ao que fomos fazer hoje.

Nunca lhe daria esse nome, é certo. Para mim seria espraiar - um mar de letras onde eu poderia estender-me feliz.


Falar dos livros da minha vida para jovens - contar das histórias que correm dentro do meu sangue, circulam como o seu sal. Como é bom falarmos do que amamos, não há nada melhor. Estes momentos valem mil comunicações académicas, bem sei que tenho, terei sempre dificuldade em explicar isto. Adicionalmente outras coisas lindas: ser no Alentejo, coração quente e silencioso; ser o convite de uma ex.aluna.

Certeza é antes o que sinto dentro de mim - poderia fazer disto o meu ofício. Porém, já não vou a tempo. Resta-me respirar bem nestes bocadinhos.

~CC~

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Olhos secos

Os olhos que se foram secando. Ela foi-se queixando, dia para dia a ver menos. Os olhos, o bem maior. Lá ia retorquindo: então e os ouvidos para poderes dizer e ouvir, o gosto para poderes saborear, as pernas que te levam de casa...procurava ajudar a relativizar a sua dor.


Até que a vi assinar os papéis diante de mim na loja do cidadão, eu marcava com o dedo o lugar para ela ver "onde", mas ela começou a assinar por cima do meu dedo, simplesmente não o viu. Depois a assinatura grande, enorme, a sair da folha, como vi tantas vezes fazer às pessoas quando aprendem a ler tardiamente, mas não era o caso. Pela primeira vez apeteceu-me molhar de lágrimas os meus olhos por causa dos olhos secos dela.


~CC~