domingo, março 08, 2009

Mulheres da minha vida (I)


Nasceu num lugar pequenino perto do mar e filha de maritímo, uma casa onde os irmãos eram tantos que se queixa de nunca ter tido o carinho e a atenção suficiente, mas perdoa porque a vida era assim mesmo e as crianças não se podiam evitar. Também não aprendeu a fazê-lo vida fora, e por isso o sexo sempre foi emsobrado por esse receio de através dele chegar mais uma criança. Nesse tempo, o prazer das mulheres era condicionado não só porque não era suposto o terem, como também pelo medo da casa se encher de bocas que não se conseguiam sustentar. Muitas vidas, como a dela, teceram-se nesta fatalidade. No mais foi audaz e competente, partiu atrás do seu amor por vários continentes, cheia de bravura mas também da inconsciência de quem sabia do mundo apenas o que os três anos de escola primária lhe tinham ensinado. Fez maravilhas com tão pouca instrução, a melhor delas a de nunca ter desistido de criar as filhas, mesmo quando para o jantar só tinha pão e chá.

Não soube encontrar outro amor depois do seu a ter deixado porque era assim a vida dessas mulheres, elas eram só de um homem, e depois dele só mesmo os filhos eram capazes de alimentar os sonhos. Nunca foi farta nas palavras e nos gestos carinhosos e foram muitas as vezes que disso nos queixámos, mas essa aprendizagem também não a tinha feito, e não sei se se pode dar aquilo que nunca se teve. Com as netas é hoje diferente e é possível ver manifestações de carinho, a maior parte das vezes sob a forma de histórias contadas, ou de uma história única, a sua própria.

É ainda bonita aos 80 anos, talvez mais bonita do que alguma vez foi, embora lamente muitas vezes a sua beleza perdida, bem clara nas muitas fotografias que adornam a casa. É uma mulher fruto do seu tempo, de um tempo que aprisionava ainda as mulheres, mas é já uma mulher deste tempo, capaz de autonomia, de opinião, de decisão.

Tecer-lhe homenagem é a melhor forma que encontro de comemorar este dia.
~CC~

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns para ela!

Abraço
JvT

Gregório Salvaterra disse...

E também se tornou uma das mulheres da minha vida. Bonita forma de escrever o 8 de Março.
Bejo
*jj*