Olhava maravilhada a forma como ele deixava as abelhas pousarem nas suas mãos. Ele tentava que eu não tivesse medo. Foi o primeiro ecologista que conheci. Deixa que pousem na tua pele, que te conheçam, elas vão saber que não és nenhuma flor. Fascinava-me o crachá ao peito: amigos da terra. Também ele era ostracizado pelas suas convicções, o que lhe dava uma proximidade especial, embora eu estivesse longe de dominar as minhas convicções como ele dominava as dele. Ele ensinava-me: não deves ter medo, o medo atrai os instintos agressivos dos bichos.
Lembro-me que foi num dia de intensa Primavera, daqueles em que as flores parecem vivas e os animais andam meio tontos. A abelha em cima da palma da mão dele, a mão aberta, a abelha a passear. De repente ele gritou, a abelha espetou-lhe o ferrão e ele não conteve a dor.
Fiquei com o meu medo, talvez não seja assim tão mau ter medo.
~CC~
2 comentários:
...riscos e convicções , medo da dor ou sobreviventes a ela ...
um gosto ler esta lembrança !
abraço
_________ JRMarto
O pior dos medos é ter medo de ter medo.
Enviar um comentário