terça-feira, fevereiro 24, 2009

O meu nome é Vanessa (XIII)



Desde o princípio que este jornalista me pareceu estranho. Quis muito contar-lhe a minha história, mas sentia-o incomodado, prisioneiro de si mesmo, fechado sobre o seu mundo. Quase nunca olhava para mim e precisava de um cigarro para aguentar o que lhe contava. Invariavelmente passavámos do espaço interior para o exterior e na última vez ele esqueceu-se de levar o gravador. Percebi então que não obstante ter confirmado a existência real da revista e ter visto o seu nome na ficha técnica, alguma coisa não batia certo.

Por isso me ri imenso quando me mostrou a reportagem já feita onde nenhuma Vanessa constava. Pois, pois...já desconfiava...disse-lhe. Ficou tão aliviado com a minha indiferença que julguei que me ia beijar as mãos ou os pés, não fosse ele tão pouco dado a manifestações de afecto. E depois: mas quero continuar Vanessa, preciso de continuar a ouvi-la, a conversar consigo! E aflito com a minha frontalidade: Encontrei finalmente um homem que amo e não o quero perder a não ser para a morte, por isso se pensa apaixonar-se por mim, é melhor acabar com isto já.

Eu não era perito a entender os meus sentimentos, mas não era paixão, nem amor, nem amizade. O que me juntava à Vanessa era uma espécie de desejo de viagem. Disse-lhe: Vanessa, o que eu quero não é nada de mais, é só viajar consigo, ir através da sua história a um outro lado de mim, a um mundo que nunca foi o meu.

~CC~


1 comentário:

Anónimo disse...

Se tivesse um gravador, e soubesse escrever histórias, também eu iria procurar a Vanessa!