Contei-lhe num dia frio de Novembro, com as mãos dela dentro das minhas, e dentro do peito um desejo enorme de morrer. Há dias que não desejamos acordar no dia seguinte, pensamos que podemos dormir durante o sono sem dar por nada, e que Deus virá erguer o nosso corpo já leve para nos levar com ele.
Fui eu meu amor, fui eu que raptei a menina do hospital. Sou eu meu amor quem tem que ocupar esse lugar onde estás, temos que trocar de posições. Tu, meu amor, é que tens que me trazer a broa e o queijo.
Os seus olhos de mel derramaram-se e o chão ficou cheio das suas lágrimas doces. Demorou uma eternidade para dizer uma palavra e quando a disse tive vontade maior ainda de morrer. Tudo nela era perdão e carinho e por isso a minha vergonha tornou-se ainda maior. Disse uma e duas vezes que tudo deveria ficar assim, que não devia dizer a minha verdade a mais ninguém. Colou nos meus lábios um manto de silêncio e pediu que fosse para sempre.
Que fazemos quando somos os culpados e os inocentes não querem trocar de lugar connosco? Como podemos matar esta culpa que nos nasce a cada manhã maior? Que amor redentor é este que nos acolhe em toda a nossa imperfeição?
A minha mulher encheu o chão com lágrimas de mel e eu bebi-as uma a uma e mesmo assim sinto-me azedo como um leite coalhado. Um milagre, precisava tanto de um milagre.
~CC~
2 comentários:
sem ter os passos para atravessar esta PONTE!!!!!
curvo.me.
Que bela esta ponte de amor.
Que bela esta fonte de palavras.
Beijo
*jj*
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