domingo, outubro 19, 2008

O grande lago

Alqueva, Outubro de 2008


Acrescentei uma estrela à constelação de momentos felizes. Acrescentei uma estrela à constelação de momentos tristes. Acrescentei várias estrelas nos meus olhos tristes-felizes, coração viajando por todos estes sentimentos na vertigem vagorosa do barco deslizando em tanta água nova, água cheia de histórias por criar. As aldeias e as pessoas sempre estiveram ali, o grande lago não. O novo e o antigo parecem não se encontrar por ora, mas vi muito pouco para além das águas.

Estrelas felizes as meninas tomando banho no grande lago. Estrelas tristes no homem do acordeão tão desfasado no restaurante neo-moderno dentro da aldeia triste, estrela de seu nome. Estrelas zangadas no teu olhar, por vezes fechado num mundo só teu, sem pontes para nós. Estrelas a brilhar no aconchego do teu abraço, em dose dupla de ternura para vencer a crónica falta de ar, desta vez derrotada em toda a linha. Faz-me feliz derrotá-la.

Um estrela feita rosa vermelha do campo riu-se para mim quando abri a mala, já meio desfeita mas com cheiro intacto. Esperança cheiro em momentos felizes.

~CC~


4 comentários:

Cristina Gomes da Silva disse...

Belo espelho-lago!

E. disse...

Sabes? Antes deste lago ser um lago, era um rio manso, de água preguiçosas. Maltratado, é certo, mas muito lento, que se descia a pé, de jangada construída sobre bidões velhos, dormindo nas margens (excepto por alturas do Pulo do Lobo, onde se tinha de carregar tudo às costas) pernoitando nos moinhos e azenhas. As fogueiras eram permitidas e os guardas vinham aquecer-se à noite, no Outono, com os ossos a ranger como as molas dos velhos UMM em que se transportavam. O grande lago veio e moldou a personalidade do rio, ou ajustou-a aos novos tempos, que é como quem diz, ainda à procura de uma personalidade. Hoje, quando passo pelo grande rio do Sul, hesito entre algum saudosismo e uma esperança num futuro que o faça reviver. E enquanto isso, perco-me nos seus afluentes - num em particular.

A OUTRA disse...

Lindo o que escreveste!
Só nas meninas poderia haver estrelas felizes, na inconsciência duma mudança profunda de que não sabemos ainda as consequencias. No homem do acordeão que viu afundarem-se os sonhos, as recordações a terra que o criou, as estrelas só poderiam ser tristes.
E agora pergunto será que os dois lagos depois de fundidos num só trarão a prosperidade, para aqueles que tiveram de partir deixando lá o que lhes era querido? Para alguns que irão procurar as "pepitas de ouro" talvez lhes traga prosperidade, mas para outros não será uma tremenda ilusão?
Cada vez mais o homem modifica a natureza, cada vez mais a natureza se revolta contra o homem.
Boa semana
Maria

Anónimo disse...

Adorei ler o que foi escrito sobre as terras que percorro e corro desde a infância, que reconheço em momentos felizes e recordo nos menos felizes... mais profundos do leito desse grande lago que gora faz parte da minha pequena aldeia... a espreitar a cada dia e que parece anunciar.
Dessa Estrela, península, a paisagem que é tão bonita, assusta-me... Mas, na Primavera faz-me deleitar por entre o MEU vermelho pApOiLA...

Beijo grande,

Nice*