segunda-feira, setembro 29, 2008

Quando os adultos jogam ao monopólio...

Quem é que, na infância ou na adolescência, não teve um amigo que o convidou para numa tarde de Verão ou numa noite grande de Inverno abrir o tabuleiro colorido do monopólio? O jogo era quase interminável e na maior parte das vezes só a contagem das propriedades e do dinheiro permitia decidir o vencedor, mas era um desafio que já mostrava alguma coisa do que cada um queria e podia ser. Eu nunca ganhei um jogo, e odiava ver quando alguém perdia tudo e ficava assim sem nada, sem dinheiro para pagar quando parava na propriedade dos outros, já nessa altura o jogo não me despertava grande entusiasmo.

Para a maior parte de nós foi a iniciação ao capitalismo, ainda assim uma coisa tão inocente comparado com o que sabemos hoje dele. As casas e os hotéis, mesmo de plástico, tinham existência, não eram papel fantasma a fingir de coisa valiosa. Os adultos que jogam hoje ao monopólio são quase como as crianças que fomos a querer ganhar o jogo comprando a rua Augusta e a rua do Ouro. Mas como não são realmente crianças são afinal perigosos, alimentam a sua vaidade e ganância com o sangue de todos os vulgares cidadãos que do capitalismo só conhecem os juros enormes cobrados pela banca no crédito à habitação.

Nós somos as presas fáceis, aqueles que ficam debaixo dos escombros no final do desabamento, nós somos os tontos e as verdadeiras vitímas do capitalismo selvagem que grassou por todo o mundo como uma nódoa num tecido. O que sobrou fora do capitalismo também não é coisa que se mostre a ninguém, meia dúzia de países com prateleiras vazias e masoléus ao chefe máximo. E apesar da indignação que corre o mundo, não há nenhum gestor (desses que ganham num mês o que não conseguiremos ganhar numa vida) responsabilizado ou acusado, muito menos algum será preso.

Perguntamos pelo futuro, agora que no fim do jogo do monopólio, não podemos ir lanchar como acontecia quando éramos crianças. E não há ninguém na política a construir outro futuro, a rasgar no seu discurso novos horizontes para a economia global. O que me assusta não é a crise, é não haver dentro dela esperança para um outro modelo de mundo.
~CC~

2 comentários:

Margarida Belchior disse...

O futuro é nosso!! E está já aí!!
Nas pequenas/grandes coisas do quotidiano que vamos construindo ou que vamos sabendo apreciar. Vivemos um momento privilegiado (como tantos outros que já vivemos), de grandes desafios, onde o cuidar dos outros, do planeta e de nós próprias (e nós próprios) ganhará certamente novos contornos e uma nova pertinência.

Bjs

deep disse...

Sinto que, por muito que procuremos mudar as coisas, só conseguiremos aliviar um pouco a consciência, porque, de resto, os nossos actos nada podem contra a sede de poder e de dinheiro desses senhores que jogam ao monopólio dos crescidos.

Lembro-me de ter jogado monopólio com os meus vizinhos numa sala cheia de luz, onde havia umas almofadas e umas cortinas de flores grandes. :)

Bom fim-de-semana.