Quando a Maria se foi embora, não senti logo dor. Primeiro pensei que em breve voltava, mas os dias passaram e não tive nenhuma notícia dela. E à medida que me faltava a sua voz ao telefone no final da tarde, a mão dela junto da minha nos passeios de sábado de manhã, o aconchego do seu corpo nas noites de fim de semana, à medida que a sua falta se ia fazendo vazio, fui ficando cada vez mais triste. Quando ela estava pouco dava por ela, mas agora sinto-a como nunca senti e dou-lhe razão nos protestos que fazia. As rosas vermelhas que lhe dava no seu aniversário, por exemplo. Lembro-me quando me perguntou porque é que lhe dava todos os anos o mesmo presente e da minha resposta atordoada, como um menino apanhado em falta. Uma resposta porque sim, porque tu gostas, enquanto ela me fitava com os olhos mais tristes do mundo.
E hoje, hoje posso dizer-vos que consegui finalmente chorar. Chorei primeiro devagar e depois convulsivamente, como se uma onda me arrancasse do chão e me levasse com ela num turbilhão, depois vieram os soluços e quando finalmente me tinha acalmado, vi a pomba branca na janela a olhar para mim. Tinha lá estado durante todo o tempo do meu choro, todo o tempo a olhar-me.
~CC~
4 comentários:
Parece que a crise está de saúde
Muito belo
passei por aqui para te dizer que adorei mesmo o texto que fizeste no "blogue que ninguém lê!", está sublime, LINDOOOO!!! Porque tentei comentar lá e não consegui, dava um erro qualquer e não podia deixar em branco! Mas, cheguei aqui e li este, com uma carga emocional tão forte...escrever coisas belas corre-te no sangue, não é:-)?? Continua...Bjs e bom resto de semana!
obrigada, CCF.
não há abrigo que nos salve das ausências, não há palavras. com o tempo, porém, vamos deixando que elas não nos conduzam apenas à intempérie...
cláudia (blue moleskin)
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