sexta-feira, janeiro 04, 2008

Em Lisboa...


Todos temos os nossos pequenos excessos, uma espécie de sal gema no sangue.

Um dos meus era pensar que quando eles partiam levavam com eles todos os corações livres e selvagens. Era pensar que estava dentro dos seus mapas, que bebia água em pequenas gotas nas paragens pelo deserto, que via com os seus olhos o céu desenhar-se inteiro em estrelas, que cruzava os rios banhando os jipes e com eles a alma.


A poesia das coisas é um pó frágil, sopramos e ele levanta-se e espalha-se pelo ar e tudo se torna cru e real. Os meus heróis estão parados em Lisboa e nunca chegarão a Dakar. Os meus heróis não são aves capazes de qualquer voo, são seres humanos assustados num terreno que já não era apenas aventura mas também negócio. Os meus heróis estão presos da ameaça e a ameaça parece ser séria para os parar. Os meus amigos voadores, pequenos seres frágeis com olhos de aventura, um dia chegarão a Dakar. Por ora, há que olhar para os motores parados e perceber, perceber que fora dos nossos casulos há gente nesses e noutros territórios presa da mesma ameaça que eles. Ou de outras, tão assustadoras ou mais que ela.


O céu visto no deserto, já sonhei com ele.
~CC~

3 comentários:

claudiafiel disse...

No deserto e em qualquer parte do planeta a ameaça de sermos subjugados aos ideais e interesses dos outros vai sempre existir, estar livre e seguro é apenas uma utopia. Mas temos de acreditar que nem sempre vai ser assim e que um dia vamos poder tranquilamente e sem medo olhar o céu no deserto, tal como sonhamos. A imagem que tenho do deserto é a imagem perfeita, sem gente, apenas o som do vento a mover a areia.

Mónica (em Campanhã) disse...

também sonho com esse céu ofuscante de estrelas, desde que li o quarteto de Alexandria

CCF disse...

Tenho companhia para o céu no deserto :) Vamos?!
~CC~