sexta-feira, dezembro 28, 2007

Estranho(s)

Somos estranhos na terra que nos disseram nossa, muito embora a terra não tenha dono e as bandeiras sejam bocados de pano. Mas a língua, esse dizer de nós, essa é um património que é pele e nos custa a largar. Allgarve é Lagos em pleno. Falam-nos em Inglês mal entramos e sorriem com alguma vergonha perante o engano: é que quase não há portugueses por aqui. O dia seguinte repete a mesma dose, a ausência de ementas em português, explicada pelo fecho em breve para férias. Diz-nos a rapariga, que emenda em simpatia o que lhe falta em saber: eu traduzo a ementa inglesa para que possam escolher. Não é essa a questão, mas como explicar-lhe.


Somos estranhos aqui, até no modo como cobrimos o corpo com roupa enquanto a maior parte a desnuda. Tenho saudades daquele modo enviesado, declinado e arrastado como falavam os algarvios em Lagos. Imagino a Sophia aqui e a dificuldade que teria em encontrar meninas do mar morenas e pequeninas. Não sei também se há ainda polvos disponíveis para entrar em hsitórias. Não tenho vontade de lhes dizer que se vão porque o sol onde se estendem a sorrir é tanto meu como deles, mas gostaria de sentir que pele que é a língua não se vende assim a troco das moedas do poder.


De repente compreendo melhor aquele sentimento dos Angolanos quando levantam o nariz para nos dizer que aquela é a terra deles e nós somos só estrangeiros, o que nos custa a admitir. A mim particularmente que nasci lá. É complicado gerir todos os nossos sentimentos em tempo de Globalização. E lembro-me daquela esplanada em Benguela onde se gritava pelo Sporting e pelo Benfica como se aqueles clubes fossem tão ou mais deles do que nossos. Minutos antes estrangeiros, agora irmãos.


Não obstante a tristeza pelo Allgarve que se afirma, sou tendencialmente fascinada pelas cidades multiculturais, desde que as culturas se equilibrem na geometria do poder e o encanto resida no encontro das matizes dos olhares, mas não sei se é isso o que aqui acontece, parece-me que não.
~CC~

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