domingo, setembro 12, 2010

Mensagens na neve

O titulo do filme tem um ar banal, de policial barato: "O Caso Farewell".
E começa com um tiro afastar a quietude dos pássaros que voam sobre a neve. E assim acaba.
A história é baseada em factos e pessoas reais ocorridos no tempo da guerra fria, culturalmente interessante para a compreensão do mundo que hoje temos, que hoje somos.

Mas registo apenas:
Dois homens que se tornaram amigos e que nunca se irão trair, e o abismo estava ali, entre eles e à volta deles. Um dos homens é Russo e deixou de ser comunista, mas não é verdade, ele é, os outros é que deixaram de o ser. Está perdido no meio dos seus. E não tem outro lugar, não fugirá. A sua traição não é traição, é um tiro para fazer voar as aves da lama onde enterravam as patas.
Um dos homens é Francês, mas a sua simplicidade é tão desarmante, que em nada se assemelha à soberba com que os franceses costumam olhar o mundo. E não tem com o seu país nenhum romance, só quer criar os seus filhos em paz. Na hora certa gritará, sem medo das palavras, que o ocidente vive do marketing da palavra liberdade.

Todos procuramos amigos assim, capazes de nos fazer rir e de nos limpar as lágrimas. Não precisam de ser muitos nem de estar sempre connosco, é a confiança a base de todos os elos.

Dois homens tão improváveis bebendo conhaque para derreter a neve.

~CC~

(nas sessões da tarde de Domingo as pessoas vão sozinhas ao cinema, e são muito poucas, olham a solidão umas das outras com uma simpatia envergonhada)

4 comentários:

R. disse...

CCF, registo duas notas de grande interesse neste post: o elogio à amizade (que não concordo que, tão frequentemente, se apelide de 'verdadeira', uma vez que só há um tipo de amizade e que corresponde, como bem refere à que assenta no respeito pela confiança e lealdade mútuas) e a solidão partilhada dos espectadores das sessões de Domingo à tarde. Há várias formas de 'derreter' a solidão. Quem sabe se essa não é uma delas... E porque não? :)

Abraço!

Margarida Belchior disse...

:-) ... fico muito contente por não teres deixado de ir ao cinema, mesmo quando não tens companhia!

É assim mesmo!! ... :-)

Bjs daqui ... :-)

CCF disse...

R, obrigada, concordo sobre a amizade. A mim o que me move é mesmo o filme, adoro cinema...mas percebo que para algumas pessoas isso possa ser um modo de se sentirem menos sós (embora o continuem, no escuro da sala).

Margarida, não abuses :)))) cá te espero! A temporada de música da Gulbenkian é fantástica e chegarás muito a tempo...de qualquer modo procurar os outros nunca deve ser um modo de não estarmos sós(até porque sabe tão bem tantas vezes), mas um modo de estarmos com eles, por eles...e para isso eles/elas têm que valer a pena.

~CC~

Anónimo disse...

Nunca deixamos a essência do que somos.

O cinema e a solidão, e a beleza e a arte, os amigos na arte, a arte pela mão dos amigos, estarão presentes,como sempre estiveram.

E não são um paliativo, mas um bálsamo. Totalmente diferente. T