Tomo banhos de silêncio. Ele é floresta escura em que me perco. Ele é uma ponte romana nos confins da Beira Alta, onde encosto as mãos nas pedras e vou delas ao meu corpo e do meu corpo a elas, e concluo que somos matéria porosa do tempo, daqui a pouco seremos pó, mais eu que elas.
Há tanto ruído no mundo, tanta gente a falar. Anunciados os precípicios não sabemos como não cair, não nos dizem. E pouco percebemos já do que o mundo é. Escapam-nos os sentidos de todas as crises que nos inventaram.
Há ruído a mais em todo o lado, música estridente, conversas ao telemóvel, redes virtuais, discussões entre vizinhos, políticos de boca aberta. E tão pouca coisa a fazer sentido.
Apetecia-me fazer greve. Seria apenas o corpo a falar a sua linguagem para quem o quisesse escutar. Digo-me melhor com a pele.
~CC~
4 comentários:
Compreendo-te, porque é também assim que eu sinto o mundo à minha volta.
Tenho-me dado igualmente conta que tanto ruído distrai as pessoas da presença e das necessidades dos que estão próximos, de tal modo que são poucos aqueles que ainda conseguem ouvir sem manifestar sinais de ansiedade, sem necessidade de obedecer a uma urgência muitas vezes de nada.
Queixamo-nos que as crianças e os jovens de hoje vivem num ritmo que não lhes permite a concentração, mas não nos damos conta de que o problema é muito nosso, dos adultos.
Tenho-te lido, mas nem sempre encontro as palavras certas. Deixo-te um abraço - que tudo corra pelo melhor. :)
Ultimamente, o silêncio que escorre pelas paredes, é ensurdecedor.
Deep, saber-te aí é consolo suficiente. Obrigada.
Jmm, sei como é. Tens razão quanto ao silêncio, ele pode ser uma dor. Procura vozes com significado, não pelo seu poder para te tirar a dor, mas porque as consegues procurar com essa dor.
~CC~
Pessoalmente, aprecio o silêncio e o encontro que permite connosco próprios. Por isso, compreendo bem essa busca da tranquilidade.
Votos de 'banhos' verdadeiramente retemperantes.
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