quarta-feira, maio 12, 2010

Só existir (II)

As grandes religiões monoteístas têm as mãos muito marcadas pela cinza, pela terra que queimaram para poderem crescer. São religiões de poder, mesmo nos Estados ditos laicos como o nosso. Essa aliança com o poder é que as torna potencialmente perigosas, e no entanto elas não lhe viraram o rosto para se tornarem simplesmente rosto comum, rosto do povo, bem pelo contrário. São grandes sistemas de dominação sobre o indivíduo, sobre a sua liberdade. Não se pode ser de uma coisa que é isto, que é também isto, não lhes posso pertencer.

Os Ateus acham que são capazes de dizer e quase provar que Deus não existe, a maior parte das vezes usando a Ciência como legitimação, a sua arrogância é quase tão grande como a daqueles que afirmam a existência de Deus. Não se percebem como gota de água num universo atrozmente desconhecido, e ignorando a profunda pequenez da existência humana, não se pode perceber a fragilidade do nosso existir. Desprezar os crentes não me parece posssível, e por isso também não lhes posso pertencer.

Aos Agnósticos talvez pudesse pertencer, não fora pensar que eles não são isso nem outra coisa, que são um meio caminho, um talvez, afinal um quase nada. E eu gosto de ser, então como ser uma coisa que não é?

O que eu gosto de ser é daquela mesma natureza que as pessoas que hoje orientaram em silêncio comovido o cego pelo labirinto dos corredores na estação do comboio, daquela solicitude contida e atenta. Ser alguma coisa de profundamente humano, e por isso triste. Ser alguma coisa de esperança, e por isso profundamente alegre.

~CC~

3 comentários:

Mar Arável disse...

Com estes pastores

coitados dos rebanhos

Margarida Belchior disse...

Estou contigo!
:-)

Bjs grds

Carlos Pires disse...

Pode-se ser crente ou ateu sem arrogância. Há diversos argumentos a favor da existência de Deus e diversos argumentos contra. Argumentos racionais. As suas qualidades e defeitos são algo que pode ser debatido. O que pode ser feito sem arrogância, por firmes que sejam as convicções.