sábado, abril 17, 2010

Destinos à chuva

Era um minúsculo guarda-chuva castanho saído numa revista dessas que não me lembro de comprar, a não ser quando me assalta um interesse tão raro quanto súbito pela moda Primavera-Verão. Tão minúsculo, tão instávell, tão frágil, que pouco me tapava da chuva forte que teimava em cair naquele fim de tarde Lisboeta. Mais de metade das pessoas não tinha, contudo, nenhum. E desde que não uso carro quando vou a Lisboa que dentro da cidade praticamente só caminho a pé. E era ainda longo o caminho, e muitos o peso que levava dentro de um dossier inapropriado para passeios à chuva.

Olho repentinamente para o lado e vejo uma loja colorida, com vários e robustos guarda-chuvas na montra. E pediam tão pouco por eles, que não hesitei em trazer um. Que fazer do outro? Era minúsculo, frágil, e estava completamente molhado, era impossível guardá-lo na mala, e também impossível deixar no lixo o que não era lixo. Pensei em dá-lo a alguém que viesse sem nenhum, alguém que se cruzasse comigo a escorrer àgua. Diria: tome este, que tenho dois.

Mas não fui capaz, a timidez sempre me protegeu destas abordagens ou impediu-as. Vou deixá-lo num lugar em que alguém o possa encontrar e levar, pensei. E assim fiz. E fui caminhado sempre em frente depois de o deixar poisado em lugar bem visível. Cerca de 5 minutos, parada no sinal vermelho, abeirou-se um moço dos seus vinte anos, deixando-se estar ao meu lado, enquanto esperavámos pelo sinal verde.

Na mão segurava, com grande satisfação, o meu guarda chuva pequenino. Deixei-o passar à frente para o ver a caminhar, usando o que era frágil e quase irrisório, para se proteger da chuva. E no lugar onde estavam as suas mãos, tinham estado 10 minutos antes as minhas.
~CC~

1 comentário:

Mar Arável disse...

Mãos nas mãos

A simplicidade do muito belo

Agradeçolhe este momento

Bj