domingo, março 28, 2010

Perfume



De uma cidade podemos ver tudo o que nos indicam para ver. E há nos mapas dos outros a beleza das coisas vistas nos olhos colectivos. E eu fui e vi com os olhos maravilhados de todos os que já a tinham visto antes. E fotografei com as mãos deles, escrevi com as palavras deles. Creio que me apaixonei por um largo pequenino traçado em amarelo ocre pelo qual outros antes de mim se terão apaixonado igualmente. E, no entanto, foi quase logo à chegada que senti um inebriante perfume numa rua, depois num largo, depois por cima da mesa onde nos sentámos. O cheiro adocicado mas forte era do perfume das pequenas flores brancas, perfume de flor de laranjeira. Toda a cidade estava cheia de árvores em flor, toda a cidade nos inebriava de perfume.

E essa vertigem, situada em plena Primavera, essa não constava de nenhum roteiro. Guardei-a para mim como um dia guardei a cidade das Acácias Rubras, guardei-a como a cidade do perfume das flores de laranjeira.


~CC~

1 comentário:

Margarida Belchior disse...

É bem verdade!! As cidades são o que guardamos dentro de nós: os seus perfumes.

:-)

Bjs grds e muito boa Páscoa!