Penso nas coisas concretas que sei fazer, algumas de aprendizagem recente, como sericaia. Sendo trabalhosa, mostrou-me que sei ser paciente.
Mas penso mais nas coisas não concretas que sei fazer. Sei, por exemplo, lavar os olhos em campos de tremocilha e deixá-los cheios de amarelo. Sei subir aos telhados para observar como as cegonhas se deitam docemente sobre os ovos grandes e inchados, quase a rebentar. Sei chegar-me a conversas de rua, para entornar as pessoas para dentro de mim, aquelas com as quais nunca me teria cruzado. E sei ir, sem saber bem para onde, se souber que no fim do caminho há qualquer coisa que suponho bonita. E sei falar às crianças pequenas, oferendo-lhes um colo com sorriso dentro, onde elas se aninham, se aninharam sempre (devia ter tido mais filhos).
Os exercícios de auto-estima não se aprendem na escola, mas deviam. Salvam-nos perante as coisas, as tantas coisas que não sabemos fazer, coisas que nos latejam sobre a pele e nos roubam o sono. À falta de melhor, como estão a ver, até as coisas não concretas são um passaporte para um rasgo de felicidade.
~CC~
2 comentários:
E, concretamente, há outras coisas inconcretas que sei que também sabes...
Beijo
*jj*
coisas raras estas que sabes, há que as acarinhar pois são preciosas.
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