quarta-feira, janeiro 06, 2010

Janeiras

Foto Serpa, Set.2009


Fui cantar as Janeiras a uma Associação de Idosos ali para a margem sul. Não canto grande coisa é verdade, mas gosto imenso desta ideia dos coros populares, nascidos nas raízes da alma, sem outra preocupação que não seja dizer ao mundo estamos aqui, estamos vivos. É verdade que por vezes o que fazemos não é mais do que um eco daquilo que foi. Ainda por cima o lugar era tudo menos uma aldeia, pelo contrário era uma zona suburbana e pobre.

Este é o tempo de andar por aí com os meus alunos, desenvolvendo actividades em tudo o que é canto. Praticamente não faço exames, quero que mostrem quem são e o que sabem fazer junto e com as pessoas. Quase todos nos abrem as portas, por vezes perguntando mesmo muito pouco, esta confiança que em nós depositam sem que nos conheçam de lado nenhum, é das coisas boas e bonitas que me têm acontecido.

Foi, no entanto, surpreendente. O coro foi só de mulheres, os homens não largaram as cartas , e a animadora da Associação disse-me que estão completamente viciados e já não fazem mais nada. Elas não, fazem ginástica de manhã, têm grupos organizados por artes e oficios, inventam pequenos teatros e estão sempre na linha da frente para que tudo o que seja passeio. O que acontece aos homens? O que é que lhes está a acontecer?

Ainda aprendi que no dia dos Reis devemos abrir uma romã e, depois de lhe saborearmos os gomos, devemos guardar aquela casquinha interior até ao ano seguinte, parece que dá sorte.


~CC~

2 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

"...desenvolvendo actividades por tudo o que é canto", até ao canto das Janeiras. Bem visto!
"Inda agora aqui cheguei
e mal pus o pé n'entrada
logo o meu coração diz
aqui mora gente honrada"

"E viva senhor da casa
vá abrindo a garrafeira
e diga a sua esposa
que encete a salgadeira"

Senhora dona do blogue
meu ramo de rosmaninho
se não me canta janeiras
dê-me abraço apertadinho

(esta não é tão antiga e tradicional como as outras, mas achei que ficava bem aqui na ardósia...)

Abracinho
*jj*

Gregório Salvaterra disse...

A romã também é das minhas memórias e a história começava uns tempos antes. No dia de todos-os-santos, 1 de Novembro, era costume ir em grupos pedir os "bolinhos" e havia sempre romãs das quais uma era sempre guardada para abrir nos reis. Havia também quem fizesse "penduras" de uvas em pregos nas traves dos telhados para se aguentarem até aos reis. Ainda me lembro do sabor apurado pelo tempo dessas uvas.
O que me trazes à lembrança!...

Beijo
*jj*