segunda-feira, setembro 07, 2009

Vermelho (I)

Os quintais na minha vida foram-se reduzindo e agora só me sobra uma varanda. Habituei o sonho à medida do meu espaço, sem nunca deixar de sonhar com a Savana. Já não tenho a Mangueira enorme à sombra da qual cresci. Não sobra nada do quintal algarvio do meu avô, onde cada vaso tinha uma cor diferente de sardinheira, todas regadas com água da cisterna. Já não tenho os pátios enormes onde, na adolescência, as vizinhas se uniam para fazer com que as borracheiras crescessem mais do que eu. Há agora ali uns vasos com plantas ortodoxas, improváveis nos apartamentos. Tenho esperado pelo vermelho com a mesma ansiedade que espero pela Primavera que as papoilas me trazem. Os morangos silvestres deram apenas flor. Já os piri-piri cobriram-se de flores em Maio. E agora, no regresso, há duas bagas vermelhas e luzídias. É verdade que as flores eram muito mais. Mas duas bagas chegam para tornar picante o caril. Vermelho é o que preciso. Vermelho picante e vivo.
~CC~

3 comentários:

Nuno Patricio disse...

Dá vontade de pegar no lápis e desenhar casa das memórias.

Anónimo disse...

Eu não estou menos morenaça, eu já estou branca!!

Isto aqui não há como fugir à palidez!

Beijinho para todos
Mariana

CCF disse...

Oh, desenha, desenha...que bonitos ficariam junto do texto!

Menina morena, deixa lá...assim que chegues, até o sol de inverno te vai queimar um bocadinho!

~CC~