Joana depositava no modo como arranjava cada bocadinho de si o segredo das mulheres que, não o sendo, se tornam bonitas. Mariana era mais selvagem e solta mas, no tempo em que a situo, tinha aprendido a pintar os lábios de vermelho cereja. Maria era voltada para dentro como uma concha e meio alheada do mundo, mais próxima dos bichos do que das pessoas. Aquela amizade tinha nascido sem que se lembrassem como nem porquê. Lembram-se só de que aos 30 eram intímas. Duas delas tinham casamentos falhados, por motivos diferentes. A primeira porque o marido não sabia nunca identificar o cheiro novo que ela trazia na pele. A segunda porque o marido não deixava de saber todos os cheiros de pele de todas as mulheres que com ele se cruzavam. A terceira tinha um companheiro de longa data com quem não vivia, e a sua vida fazia-se das longas viagens que programavam juntos e onde eram absurdamente felizes.
Havia muitos homens por ali naquele círculo, e muitos disponíveis. No entanto as três enamoraram-se de um rapaz silencioso, ligeiramente mais novo, cujo talento maior era a navegação solitária pelo mar. E claro, como ele não se apaixonava a não ser por sereias, mostrava-se disponível, ainda que pouco, para as três. Mas a primeira não conseguia colocar termo ao seu casamento, pois via no seu marido o melhor dos amigos. E a última não via razão nenhuma para deixar um companheiro que lhe dava os melhores intervalos da sua vida. Só a última deixou o marido infiel para se juntar ao rapaz do barco, e resistindo a todos os enjoos, viveu com ele uma vida de sal e silêncio. Teve-o sim, e as outras não. Mas depressa descobriu que o silêncio se pode tornar dor e que o sal do mar seca demasiado a pele. Já as outras mantiveram no seu coração o rapaz com os mesmos olhos claros e iluminados, aquela doçura que imaginavam um dia a desfazer-se dentro delas.
Havia muitos homens por ali naquele círculo, e muitos disponíveis. No entanto as três enamoraram-se de um rapaz silencioso, ligeiramente mais novo, cujo talento maior era a navegação solitária pelo mar. E claro, como ele não se apaixonava a não ser por sereias, mostrava-se disponível, ainda que pouco, para as três. Mas a primeira não conseguia colocar termo ao seu casamento, pois via no seu marido o melhor dos amigos. E a última não via razão nenhuma para deixar um companheiro que lhe dava os melhores intervalos da sua vida. Só a última deixou o marido infiel para se juntar ao rapaz do barco, e resistindo a todos os enjoos, viveu com ele uma vida de sal e silêncio. Teve-o sim, e as outras não. Mas depressa descobriu que o silêncio se pode tornar dor e que o sal do mar seca demasiado a pele. Já as outras mantiveram no seu coração o rapaz com os mesmos olhos claros e iluminados, aquela doçura que imaginavam um dia a desfazer-se dentro delas.
Só a amizade entre elas se foi deslaçando como uma rede impossível de coser com o afecto que tinha restado. Hoje dizem apenas um bom dia de meio sorriso quando se encontram na rua.
~CC~
4 comentários:
Essas aulas de escrita criativa são mesmo a que dia?
Bjs
J.
bonito!
Bonito mas "desesperançado" :)
Menino João, a vida é que é a imensa oficina :)
Meninas, obrigado!
~CC~
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