Ao adormecer, costumo pensar no que tenho vestido e estremecer sempre que não vesti nada. A nudez nocturna é tão bela quanto aterradora. A verdade é que penso sempre nos sismos nocturnos, penso em ter que me levantar e fugir a meio da noite. Penso que, tal como em Itália, sairemos para a rua aturdidos debaixo de uma lua tão bela quanto tremente estará a terra. Penso se tal como eu outros pensarão nisto. E odeio tanto dormir com as pernas cobertas, preciso de as sentir nuas durante a noite.
E caminho de um sismo a outro no meio do mesmo medo. Os sismos interiores, esta espécie de tremor que nos varre às vezes e parece não deixar nada de pé na nossa vida. Este efeito devastador das coisas pequenas: a pergunta que não chegou; o beijo que se demorou; um silêncio que se instalou, uma criança que gritou. Os sismos são estes minutos em que podemos perder tudo.
E vou da coragem dos dias em que durmo nua perante a ameaça dos sismos terrenos à coragem de contenção dos sismos interiores, como se uma vez olhados de frente eles se acalmassem, domados pelo vento doce das coisas boas.
~CC~
4 comentários:
os sismos interiores não páram nunca.
é essa a sua sensível diferença face aos geológicos.
que também não páram, mas nem sempre são sentidos por nós.
os interiores, são-no sempre.
deve ser por isso que o poeta disse que 'viver sempre também cansa'.
que belo texto, CCF...
Sublime e belo texto!..
Abraço
Clorinda
um texto de alma. quanto gosto da sua escrita.
ps.obg pelo apoio, como me entendeu....!
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