segunda-feira, março 23, 2009

O meu nome é Vanessa (XVI)



Sei que pensas que não sei o que é a solidão porque aos 30 anos já tive sete homens, mas posso dizer-te, falar-te daquele ano de aridez absoluta em que deixei o meu corpo repousar das mãos masculinas que não sabiam amar. E olha que são poucas, mesmo muito poucas as mãos de um homem que sabem afagar uma mulher, escolher os lugares em que ela reage, marcá-los como quem marca oásis no mapa. As mãos de um homem sabem só do seu próprio corpo, não conhecem a diferença. Posso dizer-te que dos sete apenas dois tinham mãos que sabiam ver, o que não deixa de ser bom, a maioria das mulheres não conheceu nenhum.


Aos 24 anos tinha tido o cunhado violador, o marialva da fábrica, o rapaz enloquecido de amor e o homem névoa. Percebes que só queria descansar? E durante os primeiros meses a solidão era o nome da minha mais profunda alegria. Mas num dia que não sei precisar, o silêncio da casa levantou-se desesperadamente contra mim e só queria falar com alguém, só queria um abraço, queria-o desesperadamente, queria-o para existir.


Liguei à minha mãe mas assim que a ouvi falar do outro lado da linha, não fui capaz de dizer nada. Liguei à minha irmã que me disse que não podia falar, que ligasse mais tarde. Liguei para o rapaz que me tinha amado mas disseram que o número não existia. Liguei para uma linha de ajuda e disseram que dentro de momentos atenderiam a minha chamada. Desliguei.


Hoje, talvez te ligasse a ti. Tu virias?

~CC~

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