quarta-feira, janeiro 14, 2009

O meu nome é Vanessa (V)

O envelope chegou em meu nome com selo de correio azul. Lá dentro meia folha de papel A4.

Ainda hoje me sinto suja quando penso nisso. Ele era meu tio e violou-me. Sabe que idade tinha? Acabado de fazer 16. Pense em tudo o que é escuro, feio, desolador. Era de noite e convidou-me para passear na praia e eu fui. Quando gritei naquele lugar onde ninguém me podia ouvir, ele disse que eu sabia muito bem ao que vinha. Mas juro que não sabia. Depois lembrei-me de tudo o que ele me tinha dito naqueles dias, nas "minhas maminhas já crescidas, no corpo de mulher que eu já tinha, nas belas pernas que sobravam dos calções". Era isto o que o meu tio dizia de mim. Depois disso tudo importa muito pouco, todos os homens importam muito pouco.
Vanessa

Estava atordoado com aquela confissão feita em papel e enviada pelo correio, porque teria a Vanessa feito aquilo? Tinha encontro marcado para entrevista com ela daí a dois dias, porque me mandaria aquela carta e só para dizer aquilo? Teria ela desistido e isto seria uma maneira de me dizer? Tentei ver uma rapariga de dezasseis anos no seu rosto de mulher de trinta, no seu rosto de ruiva precocemente envelhecida. E depois senti-me mal, porque a dor que a carta continha só me chegou no fim do dia, já muito depois de a ter aberto. Eu estava devagar a tornar-me num monstro, ouvia as pessoas mas na verdade já não sentia nada por elas.
~CC~

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