quinta-feira, janeiro 29, 2009

O meu nome é Vanessa (IX)

E à terceira foi tudo ao contrário, disse a Vanessa mostrando um sorriso que achei tímido mas bonito.
Aproximei o gravador um pouco mais dela e preparei-me para o terceiro homem da Vanessa. Certo é que nessa altura já lhe tinha dito que ia ouvi-la quanto tempo quisesse porque o gravador digital, tal como as novas máquinas fotográficas, possibilitava apagar e gravar de novo sem qualquer limite. E também já tinha decidido que a vida dela não constaria em nenhuma revista sobre relações afectivas em que um dos membros do casal tinha assinalável diferença de idade em relação ao parceiro. O que faria eu com esta entrevista era coisa que não sabia ao certo.

O terceiro era um miúdo de 19 anos como eu, mas eu já era mulher e ele um miúdo que nada sabia do mundo. Eu estava no centro de formação a tirar um curso de auxiliar de educação e ele qualquer coisa de computadores. Os pais tratavam-no mais ao menos como uma planta ou um bicho, ausentavam-se os dois grandes temporadas em viagem e deixavam o frigorífico cheio. Uma vez por semana ligavam-lhe a saber se ainda não tinha morrido ou se faltava comida. Nunca percebi se tanta deslocação era por negócios lícitos ou ilícitos mas o certo é que dinheiro não lhe faltava, só mesmo tudo o resto. Agarrou-se a mim como uma lapa e eu não me esqueci mais como é ser a primeira mulher de um homem, era virgem quando me conheceu. Infelizmente o seu amor tornou-se doentio e o ciúme atormentava-o. Não sei como é que não sabemos logo quando uma pessoa é doente, mas não demorou mais que um ano a perceber. No dia em que me fechou à chave em casa percebi que não podia continuar, que tinha que o deixar. Não era, contudo, violento. Tal como tinha aparecido do nada para se apaixonar perdidamente por mim, também desapareceu sem que soubesse para onde. A partir daí a casa teve sempre as janelas fechadas. Ouvi falar em tentativa de suicídio. Depois consegui apurar que tomou uma dose enorme de comprimidos e que os pais o levaram.

Registei apenas: que os pais o levaram. E senti-me feliz por ter feito o bem a alguém.
~CC~

1 comentário:

Mar Arável disse...

As tempestades

purificam