É como já vos disse, nasci numa aldeia entre o Alentejo e o Algarve, num lugar do qual nunca desejei sair. O meu professor do 6º ano dizia para estudarmos porque só assim poderíamos ir para a cidade e conquistar novos empregos, novos ofícios. Eu não queria, gostava do cheiro da cal nas casas, do sol a debruar a soleira da porta, das sardinheiras a espreitar das janelas e dos quintais. Gostava de ir aos figos pelos campos, de deixar a roupa a secar no estendal do quintal, de dar milho às galinhas, de ajudar a mãe a fazer os queijos. Já mais velha, chegavam-me os bailes com as festas dos santos, o café central, as excursões que a Filarmónica organizava, as tardes de praia conseguidas à boleia na mota de um ou num carro velhote de outro.
Eu não queria saber de outro mundo além da minha aldeia. O único lugar que despertou o meu interessou foi mesmo a ponte da Mizarela. Contei primeiro à minha melhor amiga, uma mulher casada como eu, mas já com dois filhos. Ela disse-me que se fosse ela, também iria, que devemos tentar tudo para realizar os nossos sonhos. Já o meu marido fez tudo para me fazer desistir da ideia, até não me poder ouvir mais falar na possibilidade do milagre. Foi depois do jantar, numa noite especialmente fria, em que de tão triste eu tinha ficado parada no sofá, sem sequer me levantar para acender a lareira. Dormitava enrolada numa manta, quando ele se chegou a mim e disse: Quando chegar a Primavera eu levo-te lá.
~CC~
1 comentário:
ainda há homens sensatos!
Bjs
João
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