sexta-feira, outubro 17, 2008

Ausências e errâncias (II)

-Lembras-te quando vieram cá aqueles miúdos da colónia e a monitora lhes contou a lenda da Candosa? O que eles se riram...acharam idiota a ideia de que esta passagem por onde o rio corre foi repetidamente aberta por uma santa.
- Vim para aqui muitas vezes, crente de que ela me apareceria.
- A senhora da Candosa?
- Sim, achava-me merecedor dessa aparição, era um miúdo arrogante.
- Pois eu toda a vida pensei que conseguiria explicar cientificamente o fenómeno destas pedras grandes que a seguir a esta passagem se encontram pelo rio, que conseguiria saber a data precisa em que a várzea foi um lago e a razão da cintiliação que todos diziam ver nas pedras ao cair da noite.
- Estão as nossas vidas explicadas, eu segui a profissão religiosa e tu és uma brilhante cientista.
- É verdade, o que uma lenda a atravessar as nossas infâncias e adolescências pode fazer-nos.
- O que temos nós em comum então?
- Vou dizer-te: "O desfiladeiro passa de leste para oeste, e pode ver-se o pôr do sol através dele(...) antigamente acreditava-se que as almas dos mortos viajavam sempre para oeste em direcção ao pôr do sol"(1). Talvez seja isto que une as nossas vidas.

~CC~

(1) in http://www.goisproperty.com/portugues/regiao%20de%20Gois/A_lenda_da_Candosa.html

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