quinta-feira, junho 05, 2008

Diários de Resiliência (III)

Um centro para jovens de iniciativa autárquica, duas salas pequenas mas arejadas e bem mobiladas numa zona em trânsito do rural para o dormitório, mistura de um velho bairro hoje degradado com um novo, de construção barata mas muito digna, quase bonita. Fim de uma tarde que felizmente já aquece.

Há dois anos que conheço este local e sei que os jovens o procuram mesmo, não é daqueles lugares vazios, onde eles não param. Aqui podem usar livremente os computadores, só o acesso a pornografia é interdito, usam-nos predominantemente para estar no msn. Aqui podem usar a consola e ver filmes. E é basicamente isto e isto é um sucesso. É também um sucesso porque os monitores têm pouco mais que a idade deles, compreendem-nos, falam a mesma linguagem, mas sente-se que há respeito, eles não abusam. Não sabia como sair deste beco, nem como fazer o animador sair dele. De um lado a satisfação dos utentes como é moderno dizer-se, do outro a minha profunda insatisfação, inquietação. Qualquer coisa parecida com sessões de leitura, debate de filmes, escrita criativa, dinâmica de grupos, qualquer coisa dessas me parecia votada ao fracasso.

Hoje saíram para a rua com as máquinas digitais nas mãos a fotografar o bairro e a eles próprios, eles outros nos jardins, nos bancos, encostados às paredes. Encantaram-se com flores vulgares, carreiros de formigas, cães à solta, bandeiras ao vento. O grupo tinha miúdos dos 8 aos 18 ou mais e isso não constituiu nenhum problema. Por ali andaram tranquilamente e aos pinotes, sem nenhum tédio, olhando o que já tinham olhado vezes sem conta.

Amanhã as fotografias encherão os ecrans dos computadores para que aprendam a tratar a imagem, dar-lhes luz, tirar sombras, recortar, emoldurar...o msn ficará por uns momentos parado, parcialmente derrotado pelos rostos do bairro. Pensaremos em mais derrotas parciais.
~CC~

2 comentários:

inominável disse...

é preciso que seja assim... é um blogue com uma filosofia educativa muito aguçada... daquelas filosofias que sabem o que querem... daquelas como já não há muitas...

Mónica (em Campanhã) disse...

o mundo nunca será um local sem poluição, mas se conseguirmos manter limpo o rio da nossa aldeia poderemos começar a ser felizes, e limpos nós próprios