quarta-feira, janeiro 23, 2008

No tempo das princesas sós (V)



No jogo dos possíveis Hipiricão fugiu com Artemísia porque nenhuma mulher o tinha feito ainda chorar e ela acompanhou-o por causa do aroma forte de serra que ele tinha, capaz de apaziguar todas as dores que o seu corpo continha.


No jogo dos possíveis Artemísia fugiu com Funcho por nunca ter visto um corpo de homem semelhante ao dos deuses que lia nos clássicos. Funcho levou-a consigo por ela ser a princesa dos contos de fadas com que a sua avó teimava em o adormecer, não obstante ser tanto o cansaço do dia de trabalho no campo que nenhuma história era necessária.


No jogo dos possíveis Hipiricão fugiu com Funcho porque há muito que gostava secretamente de rapazes e aquele era o mais belo e próximo da terra que ele alguma vez tinha visto. Funcho seguiu-o porque nunca ninguém lhe tinha dito poemas como aquele rapaz, ninguém excepto a sua avó alguma vez o tratara bem e lhe dera presentes de ouro.


No jogo dos possíveis há muito os três partilhavam o plano de fuga e tinham selado com uma pequenina gota de sangue o seu segredo. A sua aliança baseava-se na atracção profunda que sentiam pelas suas diferenças e na forma como isso os fazia desejar partilhar os seus dias.


No jogo dos possíveis cada um dos três partiu sozinho, impossibilitado de aguentar o calor seco de Junho, morto de tédio da vida que levava. Sedento de ruptura cada se foi sem deixar rastro de si, sequioso de se encontrar num outro lugar.

(cont)

~CC~

3 comentários:

Anónimo disse...

Pois!

Anónimo disse...

Ai, tantas opções, tantos jogos possiveis... qual a melhor...
Sera que precisamos de ir a votos?
Na, não é preciso, a autora está à altura.
Temos é de esperar... Mas calma, meninos... calma...

Da sempre leiura de histórias do "tipo bueda" lindas:
~AF~

CCF disse...

Pois é, anónimo...as princesas sempre foram um bocadinho complicadas :)

~AF~ tu é que és "tipo bueda" da linda.

~CC~