terça-feira, janeiro 08, 2008

Guarda-rios e estuários (VI)


Um homem Almar. Depois deles terem morrido pouco a pouco de uma doença sem nome, procurei sempre encontrar um. Não, não é verdade. Às vezes esqueci-me eu própria da tribo a que pertenci e amei outros homens que em nada se assemelhavam ao que procurava. Ao que procurei sempre mesmo quando deixei de procurar. Os homens Almar estavam longe da perfeição dos princípes mas eram alegremente como as árvores. Davam sombra, alojavam pássaros, viajavam sem sair do mesmo lugar, morriam sem água, tinham braços compridos bons para o amor. Amar em Almar era procurar o melhor leito do rio para ver com o outro a limpidez da água. Havia também o crepúsculo, o modo de se esperar por ele, a melhor altura do dia para fazer amor e de quando em quando fazer nascer dele crianças. Eu vi o amor em Almar mas cresci já na sua perca, por dentro do seu fim. Mas tudo o que inscrevemos na nossa memória tece dentro de nós a teia da qual não poderemos sair.

~CC~

3 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

Mas tudo o que inscrevemos na nossa memória tece dentro de nós a teia da qual não poderemos sair.

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subscrevo.


(encantada)



obrigada. pelo voo.


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Anónimo disse...

Às vezes, porque não queremos sair, dessa teia que nos permite voar no mundo dos sonhos.
De uma delicadeza extrema este teu texto
Carla

Anónimo disse...

Não sei porquê, tal como nem muitas vezes, mas este teu texto, fez-me chegar água aos olhos.