sexta-feira, outubro 26, 2007

Guarda-rios e estuários (II)


Eu fiz parte dos Almar. Era uma tribo simples cuja função era cuidar de que os rios chegassem sempre ao mar. Era necessário saber que nenhum obstáculo impedia de forma definitiva esse caminho. Admitiam-se os açudes e desconfiava-se das barragens, pelo receio que o desvio do curso da água e a sua retenção impedisse a união necessária das espécies e a fusão do doce com o salgado.


Viviam todos nas proximidades dos estuários, em grandes tendas de lona azul. Os olhos, de cor indistinta, eram líquidos e os cabelos eram quase vermelhos por causa das cores de tingir os panos. As mulheres ocupavam muito do seu tempo neste ofício de tirar o branco dos tecidos e depois vendiam-nos como tapetes de flores nas feiras mais próximas. Eu fui uma criança Almar mas já não cheguei a ser uma mulher Almar. No entanto, continuo a procurar em segredo o curso das linhas azuis nos mapas do futuro. Tenho também ainda o triângulo desenhado com a seiva das árvores.

~CC~

4 comentários:

Anónimo disse...

Gosto tanto deste texto-

Já tinha gostado imenso dele, anteriormente.

CCF disse...

Quando terminar, envio-te a história completa para guardares num cantinho do teu PC!
~CC~

Ode do Mira disse...

Escreves muito bem o blog é muito bonito.
Uma prosa muito poetica!
Gosto de cá vir.

CCF disse...

Obrigada, és bem vinda :) Também te fui visitar e embora já tenha visto aquele castelo, não consegui perceber onde :)
Gosto de castelos, tenho vista para dois!