segunda-feira, dezembro 03, 2012

Coisas difíceis (III)



Já tinha ouvido nas notícias televisivas que as urgências dos hospitais tinham deixado de ser como o metro em hora de ponta. Não, pensei, contudo, encontrar a sala completamente vazia, não obstante o frio e as 4 da manhã serem obviamente desencorajadores. Lembrava à minha filha o quanto ela  tinha frequentado as urgências quando viemos morar para esta cidade e como a cada Inverno a única maneira de parar a tosse irritativa, interrupta e assutadora pela noite fora era lá ir, o aerossol e o ventilan foram companheiros muitas vezes. Nunca se demorava menos do que duas a três horas e lembro-me muito bem de sair já de manhã.
 
Ontem até era estranho o vazio e o silêncio, não obstante a meia hora fazer parte das absurdas rotinas burocráticas que até praticam triagem quando não há mais ninguém, pensava que ela servia para distinguir os prioritários dos não prioritários. O padrão médico permanece igual, uma quase absoluta indiferença ao doente, receita rotineira entre dois bocejos. Se não se entra a morrer, não há atenção. Só as enfermeiras vão explicando alguma coisa do que o médico receita e do porquê de o fazer, deviam inverter os papéis, já que uns explicam e outros não o fazem.
 
A explicação para o vazio veio logo a seguir: Dezassete euros e cinquenta por aquela meia hora num hospital público (com sistema de saúde ADSE). Somem mais vinte e um euros de medicamentos. Não admira que os mais velhos já não venham e os mais novos sejam tratados a brufen dado na farmácia. O mais engraçado é que no hospital particular que tem contrato com a ADSE se paga quatro euros por consulta. Alguma coisa vai mail no reino da Dinamarca.
 
~CC~
 
 
 

4 comentários:

Maria J Lourinho disse...

Alguma coisa vai mesmo muito mal na república Portugal. Serāo, talvez, muitas coisas até.

sem-se-ver disse...

pois vai

fallorca disse...

«...O padrão médico permanece igual, uma quase absoluta indiferença ao doente, receita rotineira entre dois bocejos.»
Não sei a que hospital se refere, mas prefiro a humanidade pública do do Barlavento à exclusividade do Particular do Alvor e ainda ontem voltei a confirmar o mesmo sentimento (segurança?) no de Santa Marta.

CCF disse...

Fallorca, não me refiro a esse...mas penso que há uma enorme diferença entre uma urgência nocturna e os serviços de consulta dos hospitais públicos ou mesmo alguns internamentos hospitalares...da minha experiência há verdadeiras ilhas de excelência nos hospitais públicos...que convivem com outros em que há um enorme desprezo pelo doente.
~CC~