Às vezes perco-me um bocadinho nas aulas, justamente naquelas em que tenho segurança sobre os conteúdos a abordar. Viajo até lugares, até pessoas, histórias, projectos. Queria estender-lhes o mundo diante deles para perceberem que é muito grande, muito diverso, muito e infinitamente rico. Aparecem inadvertidamente umas poeiras nos olhos porque uma pessoa não chora nas aulas e por isso são só estrelas. Hoje uma aluna disse com admiração: como é que sabe tantas coisas...e eu olhei-a e era uma miúda.
E respondi-lhe que não era assim, que tinha apenas mais trinta anos que ela. Mas devia também ter dito: trinta anos de muito movimento, trinta anos de busca, de partidas e chegadas, de querer ver, de querer saber. Trinta anos a vencer dia a dia a timidez até me esquecer dela. E só me veio à cabeça a frase do Neruda na sua biografia: confesso que vivi.
Mas mal esta frase me ocorreu, apareceram ainda as coisas que estão por viver.
Desenhou-se diante de mim o oceano e esse continente além Atlântico em que nunca pisei. Fechei os olhos: Chile, Argentina, Equador, Brasil. Não se trata de turismo, mas de estar e conhecer as pessoas.
Confesso que ainda tenho que viver.
~CC~
4 comentários:
"Livro, quando te fecho, abro a vida."
PN
confesso, cara cc, que o sonho de visitar certos paises e continentes se torna cada vez mais uma utopia; o que esta crise me tem ensinado é que vou ter uma 3ª idade, mt mt triste, a contar tostoes. nao acredito que isto mude para melhor nos proximos 15 anos, ou mesmo 20. e depois disso ja terei demasiadas artroses para me mexer sequer.
imagino que seja o trauma dos 50 (e 2), bem mais forte do que se imagina aos 45 (ou 8). acrescida esta terrivel época que estamos a viver, nao tenho ilusoes. nem a berlim hei-de ir, quanto mais buenos aires.
abraço
Jrd, quantas vezes é assim...
Sem se ver...compreendo-te e partilho as tuas angústias a nível financeiro...mas o que eu queria mesmo era ir para lá trabalhar...alguns meses/um ano.
Abraço
~CC~
isso é/era excelente, força nesse sonho!
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