quarta-feira, setembro 07, 2011

As marcas da areia preta (I)

Os meus 38 anos pesavam de tal modo na minha pele que eu sentia que tinha 80. E foi assim até Porto Pim, não por causa da água tépida que no Verão é uma carícia e no Inverno uma Brisa. Leonor é nome de mulher triste, isso eu sempre soube. Mas a capacidade de inverter o destino tinha-me sempre parecido impossível. Quando começo a contar esta minha história de enamoramento, toda a gente pensa que me apaixonei por um homem em Porto Pim. E há logo quem acrescente ao estás mudada, o encontro com um marinheiro no Bar do Peter. Mas meus amigos não houve marinheiros, em gin tónico, nem passeios ao largo.

É verdade que houve alguém que me abanou o meu mundo, mas foi um rapaz. Não, não passem rapidamente para a fantasia "Morte em Veneza". Não falei em paixão, nem em amor, apenas do enamoramento que ronda as almas perdidas, os destinos estranhamente cruzados. Procuramos a substância capaz de nos salvar sem sabermos exactamente qual é, o sal ou ou açucar que estranhamente nos faltam, ou o potassio, o magnésio, aquela coisa em falta no nosso sangue que o faz adormecer como se para ele não houvesse esperança.


Eu explico-vos mais um pouco: sou técnica de análises clínicas, daí este vício de retratar a composição interna dos nossos fluídos humanos.

(continua)


~CC~

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