A mulher mais velha que guardava as sementes dos Almar - o tesouro do meu povo - nas palavras que tinha dito em voz baixa anunciava a ruptura que chegaria mais tarde, no final da minha adolescência. Para ela cada um dos meus sonhos colado a cada uma das sementes Almar era apenas o meu sonho, tinha o valor ínfimo de uma entre muitas possíveis coisas.
Soube nesse dia que não era eu a arquitecta do destino Almar porque esse estaria nas mãos de quem soubesse ler e não de quem soubesse construir, não de quem, como eu, desenhava na areia com tanta inquietude. E eu não lia bem. Nesse tempo tinha essa dolorosa consciência de que me era mais importante escutar-me do que escutar os outros, mas não a generosidade suficiente para mudar. Mais, nesse tempo soube que a ruptura entre mim e o meu povo residia nesse modo de olhar o colectivo, na recusa em deixar moldar a forma do meu corpo pela do sangue quente que lhe tinha dado origem. No modo como ela, a mulher velha me reduziu a um ponto no universo dos pontos, começou aí a minha viagem. Mas eu não queria, nunca quis que o meu povo se tornasse fugitivo e mais transparente que o próprio vento.
O que me revoltava era eu ter e dizer quais os meus sonhos para as sementes enquanto muitas outras ficavam caladas quando se lhes perguntava ou diziam: não sei. Algumas das minhas companheiras usavam uma variante mais sábia: ainda não sei. E quando eu gritava: eu tenho sonhos, ideias para as sementes, era frequente que o riso nascesse entre as mulheres mais jovens. Mais realistas que eu, afirmavam que sonhar as sementes era apenas um modo da mulher velha nos por à prova, porque o que era cada semente e o que dela nasceria, isso já se sabia há muito.
Nos meus pesadelos de menina eu tomava as sementes com o resto da água de um rio, com a última água de alguma das nossas fontes, engolia-as todas numa noite escura e depois, mesmo querendo saber o que eram, eu já não podia.
Soube nesse dia que não era eu a arquitecta do destino Almar porque esse estaria nas mãos de quem soubesse ler e não de quem soubesse construir, não de quem, como eu, desenhava na areia com tanta inquietude. E eu não lia bem. Nesse tempo tinha essa dolorosa consciência de que me era mais importante escutar-me do que escutar os outros, mas não a generosidade suficiente para mudar. Mais, nesse tempo soube que a ruptura entre mim e o meu povo residia nesse modo de olhar o colectivo, na recusa em deixar moldar a forma do meu corpo pela do sangue quente que lhe tinha dado origem. No modo como ela, a mulher velha me reduziu a um ponto no universo dos pontos, começou aí a minha viagem. Mas eu não queria, nunca quis que o meu povo se tornasse fugitivo e mais transparente que o próprio vento.
O que me revoltava era eu ter e dizer quais os meus sonhos para as sementes enquanto muitas outras ficavam caladas quando se lhes perguntava ou diziam: não sei. Algumas das minhas companheiras usavam uma variante mais sábia: ainda não sei. E quando eu gritava: eu tenho sonhos, ideias para as sementes, era frequente que o riso nascesse entre as mulheres mais jovens. Mais realistas que eu, afirmavam que sonhar as sementes era apenas um modo da mulher velha nos por à prova, porque o que era cada semente e o que dela nasceria, isso já se sabia há muito.
Nos meus pesadelos de menina eu tomava as sementes com o resto da água de um rio, com a última água de alguma das nossas fontes, engolia-as todas numa noite escura e depois, mesmo querendo saber o que eram, eu já não podia.
~CC~
2 comentários:
Acompanho a tua história. :)
Aproveito para te desejar um óptimo fim de semana. Um abraço.
... posta à prova, engolir sonhos, ... o que há a mais na vida em sociedade?
;-)
... hoje estou assim!
Bjs grds e bom fds
P.S. - Isto devia ser publicado!
Enviar um comentário