Em Almar, a mulher mais velha de todas guarda o tesouro. Era uma caixa de madeira quase preta com a pirâmide gravada, a mesma que todos nós tínhamos tatuada na mão, logo abaixo do polegar. Esta tatuagem era feita no aniversário dos sete anos, um presente desejado como nenhum outro. E era aos sete por causa da palavra que estava dominada na oralidade e agora deixavam-nos partir para a escrita, a viagem da palavra escrita era a primeira para fora dos territórios da água. Por isso aos sete anos, em terra seca e na entrada para a escola onde nos misturaríamos com todas as outras crianças, era necessário que a pirâmide nos brilhasse no escuro das salas de aula, que nos fizesse companhia. Ganhei o hábito de a esfregar nos momentos difíceis, mas não era um gesto só meu, vi-o noutras crianças Almar. Já adolescente, pensei muitas vezes apagá-la, naquela idade em que só queremos ser diferentes de todos os legados que nos correm nas veias.
E quando esfregar a pirâmide não chega, tento ver com a mesma luz que vi pela primeira vez aos sete anos, o tesouro Almar. Eram sementes lisas e rugosas, escuras e coloridas. Vejo-as dispostas diante de mim perante o sorriso da mulher velha. Vejo o meu espanto por pensar que dentro da caixa só podia haver ouro. E da voz baixa dela e meio rouca a murmurar: das sementes tudo pode nascer. Sim, das sementes tudo pode nascer.
E quando esfregar a pirâmide não chega, tento ver com a mesma luz que vi pela primeira vez aos sete anos, o tesouro Almar. Eram sementes lisas e rugosas, escuras e coloridas. Vejo-as dispostas diante de mim perante o sorriso da mulher velha. Vejo o meu espanto por pensar que dentro da caixa só podia haver ouro. E da voz baixa dela e meio rouca a murmurar: das sementes tudo pode nascer. Sim, das sementes tudo pode nascer.
3 comentários:
É!! ... das "sementes" tudo pode nascer!! ... "infinitas possibilidades"!!!
:-)
Bjs
... acho lindo, lindo!! ... Vou pôr o link no meu blogue!
:-)
As tuas sementes são as palavras, que acabam por resultar em bonitas histórias.
Um abraço. :)
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