quinta-feira, novembro 11, 2010

Novembro.11

Viajámos, não sei bem porquê, nem exactamente para onde. Acontece-me não me lembrar das coisas a não ser em microfilme. É um excerto de qualquer coisa maior, mas só me lembro dessa mais pequena. Apanhámos uma estradinha pequeninha de terra sem qualquer indicação de destino. Eu e ele temos em comum esta vertigem do mergulho, de repente só queremos ver verde, sair dos eixos.

Viajámos e foi para Norte. Lembro-me que corria um rio, e que havia uma encosta cheia de castanheiros. E havia por ali uma data de filhotes dessas árvores que dão ouriços. Só a natureza é capaz de criar espinhos para proteger o que tem de mais precioso, quantas vezes eu o quis fazer sem conseguir. Imagino a minha cria dentro de um ouriço, protegido o meu amor.

Ele, o meu rapaz, foi buscar ao carro as suas pás de roubar árvores, arbustos, flores. E trouxemos daquele lugar sem nome um pequenino castanheiro, na ilusão de o ver crescer perto de nós, e de eu poder aprender com ele a criar ouriços. Mas algumas árvores são especialmente sensíveis, se lhes falta o grau adequado de humidade e de temperatura, desistem de viver. Ou talvez seja só saudade.

Reparem bem nos ouriços que escondem as castanhas, e depois nesse aveludado casca, e na polpa rija que o interior esconde. Podemos comê-las cruas, cozidas, assadas. A natureza é perfeita, podia viver só da recolha dos seus frutos.

~CC~

3 comentários:

Gregório Salvaterra disse...

Talvez houvesse por ali uma estrela hermínia e nos perdêssemos a tentar achá-la...
Talvez se tivesse estendido uma toalha sobre as ervas para uma merenda acompanhada de trinados rouxinóis e marulhar da ribeira em baixo contínuo...
Talvez fosse apenas primavera e os jovens castanheiros rompessem da manta morta do inverno...
Talvez fosse apenas uma linha atada a um futuro outono de castanhas assadas...
Beijo com castanhas
*jj*

fallorca disse...

«Ele, o meu rapaz, foi buscar ao carro as suas pás de roubar árvores, arbustos, flores.»
Delícia...

Unknown disse...

É com pena que me apercebo há quão pouco tempo descobri este blogue. E imagino o tanto que deixei para trás.