domingo, novembro 28, 2010

Manhã de Domingo

É um jardim pequenino a beira do antigo aqueduto, aproveitaram bem um canto da cidade ao abandono. Mas hoje não vim à hora do riso dos meninos, mas à hora das almas errantes.

O homem de meia idade absorto dando pão aos patos, demasiado novo para tal ofício de que se ocupam os velhos e as velhas a quem o abandono chegou. Verá no alimento dado o pouco que lhe resta da utilidade de estar vivo?

A mulher oriental, sentada no banco, falando sózinha, também longe de ser velha, pelo contrário armada de uma beleza tranquila de um ser do outro mundo. Senti frio ao passar por ela, não obstante o brilho do sol.

E o rapaz sem abrigo que leva a casa na bicicleta, e a mochila às costas, e vai a pé, porque o peso que a bicicleta transporta em sacos e mantas e velhos guarda chuvas (para que quererá tantos?) já não comporta os parcos quilos da sua magreza.

Não, esta não é ainda a hora dos meninos pelas mãos jovens das suas mães risonhas, nem dos homens divorciados empurrando baloiços pela manhã fora, nem tão pouco dos cães que terão que aguentar mais o sono domingueiro dos donos. Esta é a hora matutina de quem não sabe o que Domingo é dia de acordar mais tarde, e cujas horas se confundem fora de todas as rotinas.

E não sei porquê, são eles as personagens das histórias que ainda não escrevi, que não sei se algum dia escreverei.
~CC~

2 comentários:

deep disse...

O meu domingo começou a horas "impróprias" para domingo com um passeio no campo, à beira da água - que reflectia o azul intenso do céu. Além dos amigos que me acompanharam, tive por companhia chapins, piscos-de-peito-ruivo e outros habitantes voadores, seres bem menos solitários que esses que descreves.
Boa noite e votos de óptima semana. :) Abraço.

Anónimo disse...

Leio secretamente todo o que escreves na tua ardosia.
Hoje, perguntei-me o que me leva sempre que abro a net, a bisbilhotar o que lá escreves?! Hoje, após a breve leitura, por um instante, fui á procura de quem era o autor...!! sem dúvida, o que me leva á bisbilhotice é a magia da tua escrita.

Não percas o teu antigo sonho de publicares algo...

Ernesto