As cidades arruinam-se neste Outono. Os dois cinemas da minha cidade estão fechados para obras. O parque enorme para automóveis que construíram junto à minha casa, em plena zona residencial mas junto da estação de comboio, pejado de parquímetros, mostra como pode falhar a estratégia comercial pública, está deserto. Em cada quarteirão, o edificío mais antigo e mais belo, está a cair aos bocados. A cidade cresce em direcções aparentemente insuspeitas nos terrenos baldios que restam, fazendo minguar as hortas circundantes, mas as tabuletas de venda e aluguer são tantas que parecem anunciar mais desespero que belas casas à venda.
Salvam-se os plátanos enormes e absolutamente deslubrantes de amarelo e laranja, como se os seus cabelos esplenderosos tocando o céu soltassem melodias baxinhas em cravo, para fazer explodir o que resta de beleza nos corações já gastos.
~CC~
1 comentário:
Andam a matar as cidades.
Lembrei-me do Cabrera Infante e do seu 'Libro de las ciudades' e dessa vida oculta (ou culta) que circula pelas veias das cidades. E depois há cidades que começam a apodrecer por dentro e morrem secas. Ou pelo menos, partes delas.
Beijo
*jj*
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