terça-feira, julho 13, 2010

Pedras

A mulher levava um saco do Pingo Doce onde ia colocando as pedras, nem mil sacos chegariam para as tirar todas da areia. Talvez as quisesse para adornar os vasos, refazer muros, enfeitar parapeitos. Talvez ela pudesse levar também o meu coração, cansado de ser liquído, está a tornar-se duro, perigosamente indiferente a tudo, da textura das pedras da praia, com o mesmo cheiro salgado dentro, mas em vez de mar, memórias de lágrimas, cansaço.

Mas ainda assim sufoca com a notícia da mulher iraniana salva do apedrejamento mas não da morte. Como podemos habitar um mundo onde as mulheres são mortas à pedrada? O coração é um aperto de mal estar. Há quem se indigne, felizmente, é o que parece restar-nos.

O coração distende-se, contudo, com as saudades do teu sorriso, da tua alegria adolescente, do teu olhar de luz. Tenho saudades, isso é ainda sinal do fluir do sangue, do seu bater de mãe.
~CC~

3 comentários:

Mar Arável disse...

Aceite o meu beijo

simplesmente

R. disse...

É um mundo de contradições que, ainda assim, nos resgata da "petrificação" opondo o sublime ao hediondo.

(Obrigada por mais este momento "azul").

CCF disse...

MA, Pois está aceite :)

R, Isso mesmo, contraste hediondo-sublime- e nós nesse arame, tentando não tombar.

~CC~