Não me lembro se na altura chamávamos "Básico" ao 7º, 8º e 9º, mas foi aí que aprendi o que eram papelinhos, essa síntese do mundo inteiro numa frase ou numa palavra que se tornava tão imperiosa de dizer a alguém que valia a pena correr o risco de ir para a rua. Alguns eram para rir(já viste os brincos que a stora traz hoje?) outros perguntas banais (vais para casa depois das aulas?) e muitos eram revelações de amor (A D gosta do Z). O mundo dos papelinhos corria paralelo ao das aulas, e quando se encontravam era mau sinal.
Duas ou três palavras chegam para dizer quase tudo, que o digam os anarquistas que têm as frases mais belas e filosóficas nos murais das cidades, algumas já meio apagadas pelo tempo, mas ainda latejantes no seu fulgor. E veja-se o letreiro que a Julliete Binoche apresenta quando recebe o prémio, tem só um nome, e não precisa ter mais nada. Em Setúbal, uma frase numa parede da avenida princípal resume o essencial do bater do coração: Kero alguém que me ame!(descobri que meia cidade já a tinha parado a ler). E sabemos que a Comunicação Social deu ampla cobertura a um Pedro que em todo o lado tinha escrito que procurava uma Inês.
Gostava de ter essa concisão, esse poder de dizer tudo em duas ou três palavras, mas não consigo. Enrolo-me nas palavras como se elas pudessem ser o meu cobertor, aninho-me nelas. Mas gostava muito de deixar duas ou três frases escritas pelas paredes, em certas paredes, certas ruas, certas frases. Se um dia sair pela calada da noite, já sabem ao que vou.
~CC~
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