A terra treme zangada, nunca a vi tremer tanto e tão intensamente, ou nunca lhe deram tanta voz. Reage como um animal ferido. O que lhe fizémos?
Também me sinto muitas vezes um animal ferido, acossado. O que me fizeram? O que fiz de mim?
O rio é tão grande quando o passo devagar, neste comboio azul, do qual me fiz utente. É tão bonito o Tejo pela manhã, tem uma luz que nos lambe as feridas, que me lambe as feridas.
Ela diz-me para não me deixar abater. E não deixo, mesmo que a chuva tenha deitado ao chão as flores das árvores, cortando rente a Primavera. O corpo anda a pedir-me um descanso que não lhe posso dar, dói-me o ombro, o braço, a mão, todo o lado direito a pedir-me tréguas da escrita.
Que bom seria poder escrever uma tese toda na areia da praia, enfeitá-la com conchas, búzios, um bocadinho de algas. E depois a maré viria levar as palavras com ela, levando as palavras como comida de peixe. Que valor têm as palavras se não as dermos a comer aos peixes?
~CC~
5 comentários:
Ora aí está uma bela tese!...
E a outra também, mesmo que a poesia não seja tão evidente.
Repouso e sol é o melhor para essas dores.
Beijos. Também.
*jj*
Que bom seria escrever uma tese num remanso, num colo, numa planície qulaquer. Assim, tendo que as colocar a decorar papel, nem para os peixes servem.
Sinto-me cansada também. Mas nunca das palavras. Como as tuas. Que pena que o canto do sul também se cansou. T
Que bom termos o Tejo, com o seu azul que nos lambe as feridas, assim como sabermos sonhar com outras teses que se vão fazendo dentro de nós, escritas na areia, como comida de peixes - são as mais importantes de todas! ... :-)
«Pelo sonho é que vamos!»
Bjs grds
A vista da água, o sol e a Primavera também costumam lamber-me as feridas. Como tu, também anseio por uns dias em que possa descansar, corpo e alma.
Fiquemos a aguardar por melhores dias, com a serenidade que pudermos.
Gosto desse teu diário a cores. :)
gostei tanto da sua última frase
:-)
(tenho andado caladita, mas passo sempre por aqui)
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