Ele poderia escrever de novo os versos mais tristes esta noite, ou naquela outra noite em que a terra tremeu tão forte. Era um livro a desfazer-se entre as minhas mãos, como se sobre ele muitos amantes já tivessem chorado. Li e reli os vinte poemas de amor e uma canção desesperada na urgência de beber para sempre a palavra crepúsculo como ele a escrevia. E nada do que depois li dele se assemelhou à intensidade que ele tinha nos seu sangue de vinte anos, poemas a brotar na sua cidade amada.
Quando a terra tremeu de forma tão avassaladora no país que era dele, só me lembrei que talvez ele pudesse cantar qualquer coisa capaz de a amansar. Mas os poetas também morrem, mesmo que os lembremos mais e mais. O Chile é de Neruda, é assim que o penso na minha cabeça e não há nada a fazer. E podemos amar um país que não conhecemos, ao qual nunca fomos, com o qual não temos laços evidentes, porque um poeta o colocou no nosso coração. Esse bem querer é como se fosse um passaporte para entendermos um povo na sua aflição de existir, um povo agora mais aflito. Desejar-lhe bem, cantar à terra para que amanse.
~CC~
1 comentário:
Confeso que...
Vivi neste escrito a poesia de Neruda que também me uniu a esse país e a esse povo várias vezes maltratado.
Parabéns.
Beijo
*jj*
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