domingo, fevereiro 21, 2010

Single

No filme Single Man, há um homem a querer morrer porque o seu amor perdeu a vida. A sua tristeza devora-o como se fosse lume a pegar-se a um papel. E não há água capaz de apagar a imensa fogueira da tristeza. E, no entanto, há coisas pequenas que são ainda um resquício de luz, embora a sua vontade de morte seja mais forte.

Ele lembra as pequenas coisa luz: um rodopio de dança com a melhor amiga, um raio de sol apanhado na rocha, o azul dos olhos do rapaz que o procura.

Dantes quando estava triste pensava nos mais tristes que eu. Hoje pensaria na ilha dominada pela chuva e nos que lá morreram sem sentido, invadidos por esta tempestade maior do que nós. Mas seria um exercício inútil, a tristeza dos outros não apaga a nossa.

Por isso só é possível vir à tona através dos meus próprios resquícios de luz. Espero um abraço meigo daquele menino que há dois anos se salvou da morte, o pedido matinal da minha filha adolescente para a escolha da roupa do dia, a visão da rua com o mar ao fundo, e eu a deitar-me molhada de água e sal na areia quente de Agosto.

Resquícios de luz, trata-se de os apanhar sofregamente.
~CC~

4 comentários:

Mar Arável disse...

Um belo texto

que me cala

fundo

Bj

Margarida Belchior disse...

Aqui vai mais outro: Um grande e apertado abraço ... :-)
Bjs grds

via disse...

morre-se, às vezes apenas por causa de um esquecimento.bjo

CCF disse...

Abraços três.
~CC~