sexta-feira, dezembro 11, 2009

Fazer a diferença (II)

Na escola pobre, no bairro onde viveram os meus avós, as gaivotas dipustam entre elas as migalhas no pátio onde os meninos brincaram. Vou com o director conhecer todas as salas, todas as professoras. Mas só me lembro dela. Esteve desde o início do ano a trabalhar numa salinha improvisada num vão se escada, mas nunca deixou de lado o seu sorriso e energia. Agora alugaram um contentor branco, com quatro janelas e uma promessa de ar condicionado quando vier o calor. É bom, muito bom, diz ela sem nunca perder o brilho dos olhos. Para muitos outros aquilo é uma desgraça, os meninos, os pais, tudo é uma desgraça. Para ela é matéria prima, é desafio, é saber a constuir devagarinho, sem desistência.

Diz-me que não pode vir hoje à reunião porque tem que ir finalizar o processo de adopção que iniciou há uns meses. Pergunto pela criança, e ela diz-me que não é uma criança, é uma rapariga de 16 anos. Espantou-me com a coragem de alguém que adopta uma rapariga de 16 anos quando a maioria dos casais sinaliza até aos três anos. Penso que não terá filhos, por isso tal bondade. Ela ri, tem dois rapazes já crescidos.

Sinto-me feliz com a diferença delas, aí reside a esperança.
~CC~

2 comentários:

Alberto Oliveira disse...

... é verdade: a diferença faz-se pelo comportamento corajoso e, se possível, com um sorriso.

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

sim, aí reside a esperança! E vivam as diferenças!!Bjs