quarta-feira, dezembro 16, 2009

Chocolates (II)

Entro pouco naquele supermercado porque detesto o seu aspecto sujo e desleixado e não consigo ser indiferente às velhotas que se arrastam por lá de robe e pantufas, como quase nunca trazem os óculos que aliás de pouco já lhes podem valer, querem saber o preço de cada coisa, e abrem as carteiras para ver se trazem o dinheiro suficiente. Sei o que é contar o dinheiro para comprar qualquer coisa no supermercado e por isso elas provocam-me muita dor. Há também muitas mulheres e homens alimentados pelo rendimento minímo ou pelo subsídio de desemprego que por lá se demoram estudando bem cada coisa a trazer. E ontem, o rapaz.

O rapaz devia ter a idade da minha filha ou pouco mais, e vestia-se como ela, de forma escorreita e simples, mas não parecia pobre. Mas o que podemos realmente inferir da aparência de alguém? Estava parado sozinho em frente à prateleira dos chocolates e colocou um dentro de cada bolso do casaco. Viu-me e eu vi-o e ele viu que eu tinha visto o que ele fazia. Baixei os olhos e passei por ele sem uma palavra. Podia ter-lhe dito que sei como é, também sei como é não poder pedir dinheiro nem o ter para chocolates. Há muito que não via ninguém a roubar no supermercado, pensei que já nem era possível com os códigos de barras.

A verdade é que nem me passou pela cabeça denunciar o rapaz, era como se eu estivesse inequivocamente do lado dele, por mais que roubar não seja coisa a aprovar no meu código de valores.
~CC~

2 comentários:

via disse...

roubar chocolates, a sensação de passar impune é do melhor, um sabor a liberdade...verdade...

Gregório Salvaterra disse...

Hoje fui ao supermercado e, tendo já lido este post, lembrei-me de roubar uma caixinha de chocolates para te oferecer. Mas (lá está!...)o código de barras faz 'pip' na máquina e soma o preço dos chocolates às outras compras.
Eu sei que não tem o mesmo encanto (assim à Zorro ou Robin Hood...), mas está ali à espera.
Beijo
*jj*