terça-feira, dezembro 08, 2009

Bairro

É verdade que o prédio é novo e bonito e que tem vista para a baía, para essa língua luminosa de azul de diversos cambientes pintados através da luz do céu. Vive, no entanto, entre dois bairros sociais, na parte escondida da cidade. É por isso que vejo a família cigana carregada de preto subindo a rua até ao cemitério, que me cruzo pela manhã com as velhotas de pantufas e robe que me sorriem em silêncio, e que logo cedo há gente a beber neste misto de cafés-tabernas que há em cada esquina. Os pijamas estão sempre em saldo no pronto a vestir, a loja indiana vende várias pós que juntos dão o verdadeiro caril, do mini mercado chega um cheiro a pão, e a igreja tem um cordão de luzes assim que cai a noite. Na esplanada do café, um rapaz brasileiro na casa dos vinte diz a uma portuguesa da mesma idade:

- É Natal e quero dar-te uma coisa.
- A mim? Eu não quero nada...

(a amiga que também está na mesa sorri matreiramente)

- Não tenho cá ninguém, quero dar-te uma coisa a ti.
- E a tua mãe, quando vem?
- Estou a juntar o dinheiro para ela vir, são seis meses, já fiz as contas...
(que pena não conseguir juntar a pronúncia dele nesta escrita, era doce, cantante, cheia de esperança).

Gosto tanto daqui.

(talvez nunca pare de procurar a minha casa).

~CC~

1 comentário:

Mar Arável disse...

Por vezes andamos


com a casa às costas