quarta-feira, novembro 11, 2009

As lágrimas públicas


Ela chorou, pela manhã, dentro do meu gabinete, soluçando baixinho, e senti-me mal porque o estatuto professor e aluno fizeram reter em mim o abraço que lhe queria ter dado. Falei-lhe baixinho e próximo, tentando mostrar quantas cores poderiam haver para além da sua dor, mas não a consegui tocar. À tarde uma outra aluna, essa desconhecida, saiu de dentro de uma aula a chorar e cruzei-me com ela sem conseguir dizer-lhe uma palavra, ainda hesitei o passo, mas mais nada. Hoje, passei numa paragem de autocarro onde uma mulher já adulta chorava sozinha sem sequer tentar tapar as lágrimas. É imensa a fragilidade das pessoas que tornam públicas as suas lágrimas, nunca lhes consigo ser indiferente, mas a maior parte das vezes não as consigo ir secar, consolar, sobretudo se as pessoas são desconhecidas. Mas aquela aflição persegue-me pelas horas dos dias.


~CC~

9 comentários:

vt disse...

Andas mesmo a precisar de mudar de ares! Vai à noite a uma discoteca, onde ninguém chore, onde só dancem e cantem bem alto, como, Bécaud, "La solitude ça n'existe pas!"

CCF disse...

Bom...tive grande dose de "noitadas" na minha juventude, e sabes...também havia lágrimas por lá...e por vezes muita solidão! Agora, a canção...essa sim é uma boa sugestão:)
~CC~

jvt disse...

Ao referir a canção era exactamente isso que queria dizer... Por vezes é no meio do riso, no meio da multidão que nos sentimos mais sós!

CCF disse...

Pois é, afinal estamos de acordo...vai um pé de dança? :)))
~CC~

via disse...

é também a estação, esta melancolia do outono, andamos assim à beira das lágrimas, frágeis como se fosse tudo demais ou pouco.

deep disse...

Nem sempre quando temos a lágrima mais fácil é quando nos sentimos com mais vontade de chorar. Chorar alivia e, se estamos tão tristes ou tão vazios que não conseguimos chorar, o desespero é maior.
Ver chorar os outros também me toca, mais ainda se forem homens... começo logo a chorar também.

Obrigada por me teres também ofercido o post anterior.

Um abraço deste mar de terra. :)

CCF disse...

Via, o tempo também me influencia muito...infelizmente!

Deep, isso de nos tocarmos mais quando vemos um homem a chorar, tem que se lhe diga...e de facto os três casos do meu post eram mulheres!

Abraços dois
~CC~

sem-se-ver disse...

mas porque não abraça?

CCF disse...

Sem se ver, uma vez uma aluna do curso de animação sociocultural que estava a fazer estágio numa escola disse-me que um miúdo lhe tinha dito que já sabia a diferença entre os animadores e os professores: os animadores davam abraços e os professores não! Eu acho que de certa forma o miúdo tinha razão. Com os meninos da escola primária não sentia tal, mas com os "grandes", acredite que é mais difícil. Há, no entanto, mais formas de exprimir os nossos afectos, e procuro fazê-lo.
~CC~